Profª Drª Maria Aparecida de Luca Nascimento
Todas as profissões têm como característica básica, o elemento técnico, e com a enfermagem não poderia ser diferente. Socialmente, quando se quer saber sobre qualquer perfil profissional, ouve-se a seguinte pergunta: o que é que ele(a) faz? Desse modo, é o fazer que nos caracteriza, ou melhor, que caracteriza todos os profissionais.
A projeção da enfermagem a patamares científicos foi alcançada por Florence Nightingale através da sistematização da assistência composta pelo elemento técnico. Entenda-se por técnica, todo um processo, que vai do micro ao macro ambiente, que engloba atualmente, tecnologias, formas de proceder sistematizadas, apoiadas em referenciais das mais diversas ciências, tendo sempre como foco, o ser humano.
Apesar disso, frequentemente ouço alguns recém formados dizerem que seu interesse após a formatura é o ensino, mas como ensinar o cuidado sem praticá-lo? Mesmo entendendo que a enfermagem se processa através da assistência, do ensino e da pesquisa, é o fazer que poderá contemplar estas três vertentes da nossa profissão.
Ao praticar o cuidado através de uma sistematização, o profissional se destaca e se impõe, pois cada um dá de si quando atua na enfermagem, porque o toque de uma mão, é diferente do toque de outra, a forma de um profissional abordar um paciente, difere de uma pessoa para outra, e cada profissional deixa impresso, de alguma forma, no corpo de quem foi alvo do seu cuidado, a sua marca.
Ainda hoje, e lá se vão quase três décadas, lembro da forma com que uma profissional de enfermagem arrumava as crianças para irem ao banho, dentro de uma enfermaria pediátrica. No plantão dela, a hora do banho era uma festa, assim como a hora do café, do lanche e do almoço, independentemente do tipo de dieta de cada um. Como ela, lembro de muitos profissionais, cada um a seu modo, povoam as minhas lembranças. Fico a imaginar, se os pacientes que foram cuidados por eles também não guardam essas lembranças...
Porém, fazer não é tudo, é preciso falar sobre o que se faz, além disso, a enfermagem é uma profissão eminentemente social, lidamos com gente durante todo o tempo, e não só com os pacientes, lidamos com seus familiares e com os nossos colegas de profissão, e, sem dúvida nenhuma, somos o elo entre todos os profissionais, porque somos a equipe que mais tempo permanece ao lado do paciente, e dentro dos setores.
Desse modo, se praticamos a enfermagem com competência, se aplicamos os princípios científicos no nosso cotidiano, mas não nos comunicamos adequadamente, deixamos a desejar como profissionais. Ainda mais se, diante de um grupo interdisciplinar, não soubermos expor as nossas idéias, e nem soubermos expor as nossas reivindicações. Falar socialmente é primordial, mas, profissionalmente, falar é uma questão de sobrevivência da classe.
Contudo, há que se cuidar, não só, daquilo que se fala, como também, da forma como se fala, porque, profissionalmente, o que se fala tem peso diferente daquilo que é dito coloquialmente. Assim como o fazer, o falar também caracteriza um profissional, e as palavras também deixam as suas marcas, para o bem, ou para o mal.
Sendo assim, de que adianta ser um profissional, tecnicamente perfeito, mas sem uma comunicabilidade razoável? No mundo corporativo e na era da comunicação, aqueles que fazem, mas não falam, ou falam mal, perdem terreno a cada dia, e, na mesma proporção, aquele que fala, mas não faz, também fica desacreditado.
Daí, a importância de tomarmos posse das nossas idéias, e de defender o nosso ponto de vista nas instituições, nos cargos, e nos eventos dos quais participamos, ressaltando que o discurso terá mais crédito, à medida que o seu expositor demonstre capacidade técnica ao defendê-lo.
Porém, fazer e falar, não são os únicos procedimentos necessários para o delineamento da imagem profissional, além deles, é preciso, urgente e necessário, que se escreva. A escrita é um documento como qualquer outro, e a forma mais expressiva de comunicação, porque se perpetua.
No entanto, quem escreve se expõe, tal como agora faço, mas o que seria das profissões se não fossem os documentos que legitimam a ação dos seus profissionais? Além do mais, o debate que advém dos artigos e dos materiais escritos possibilitam o crescimento profissional.
No cotidiano da nossa prática acadêmica, observamos a quantidade de verdadeiros doutores “honoris causa”, que detém um saber profissional invejável, mas que afirmam que o fato de escrever sobre a sua prática é um desafio. No entanto, escrever é uma questão de hábito, e escrever sobre o que se faz é uma contribuição imensurável à evolução da profissão.
Escrever é tão importante, que a prova de redação no vestibular e a prova de português nos concursos públicos têm características eliminatórias, e têm sido responsáveis pela reprovação de muitos profissionais gabaritados tecnicamente, que, ao serem eliminados, deixam um vácuo difícil de ser preenchido.
Assim, profissionalmente, você é aquilo que você faz, fala e escreve, não necessariamente nessa ordem, porque essas formas se interpenetram, e, sem dúvida, é nesse tripé que a imagem profissional encontra apoio. Concluindo, quem faz e não fala sobre o que faz; quem faz, fala e não escreve sobre o que faz; e quem escreve, fala e não faz, deixa a desejar como profissional.
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