quinta-feira, 19 de julho de 2007

Profissionais de enfermagem relatam patologias que podem estar ligadas ao trabalho

Por Sarita Coelho

Divulgado em 04/06/2003 às 00:00 h.

Diversos problemas de saúde, relatados por profissionais de enfermagem de dois hospitais do município do Rio de Janeiro, podem estar associados às suas condições de trabalho profissional e doméstico - que incluem longas jornadas, trabalho noturno e alta carga de atividades em casa. É o que sugere a bióloga Luciana Fernandes Portela em sua dissertação de mestrado em saúde pública Morbidade referida em profissionais da enfermagem: relações com o horário de trabalho, jornada semanal e trabalho doméstico.

O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Departamento de Biologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) sob a orientação de Lúcia Rotenberg e William Waissmann. Com base na dissertação, defendida em 23 de junho, a equipe fará um acompanhamento da saúde dos profissionais.

Para analisar o perfil epidemiológico dos trabalhadores, a equipe de pesquisa aplicou um questionário dividido em quatro blocos principais de perguntas: dados sócio-demográficos; trabalho profissional; trabalho doméstico; e saúde. Também foram incluídas questões do dia-a-dia, como a relação do profissional com a chefia e com os colegas de trabalho, as queixas de sono e o cansaço. O objetivo era associar algumas variáveis aos relatos de patologias. "É importante lembrar que não trabalhamos com diagnóstico, mas sim com sintomas e doenças referidos pelos enfermeiros e auxiliares", diz Luciana.

Depois de analisar as respostas dos 280 entrevistados (20 homens e 260 mulheres), algumas variáveis foram consideradas mais expressivas como fatores que interferem na saúde dos profissionais de enfermagem, como a jornada profissional superior a 40 horas/semana e a interação entre trabalho profissional e doméstico, chamada de carga total de trabalho. "A conciliação entre as atividades profissional e doméstica se revela complexa, em termos de seu possível impacto à saúde e à vida familiar, considerando que não há como separá-las na análise das relações trabalho-saúde em populações femininas", comenta.

Colesterol alto

Em relação ao trabalho noturno, foram comparadas pessoas com jornadas noturna e diurna, trabalhadores noturnos com quem nunca trabalhou à noite e ex-trabalhadores noturnos com quem nunca trabalhou à noite. Enfermeiros com mais de dez anos de experiência no trabalho noturno relataram ter colesterol alto. "A pessoa que inverte o ciclo vigília/sono, em geral, se alimenta durante a noite, o que pode provocar mudanças no ritmo da alimentação. Dados da literatura sugerem que isso possa provocar alterações no metabolismo e nas taxas de colesterol sanguíneo", justifica Luciana.

Ainda sobre a essa variável, pessoas que trabalham mais de quatro noites em um período de 15 dias relataram com mais freqüência falta de tempo para ficar com os filhos e para o descanso e lazer. "Essa queixa é mais complexa do que parece, porque é durante a noite que a família se reúne", diz ela. Um dado curioso é que as queixas de sono não foram consideradas típicas dos trabalhadores noturnos, porque profissionais de turnos diurnos também relataram o problema com bastante freqüência.

Quanto ao trabalho doméstico, a bióloga preferiu desconsiderar as respostas dos homens, por não dispor de instrumental adequado para a análise da participação masculina no trabalho doméstico. Ela analisou a jornada de trabalho em casa e a sobrecarga doméstica. "Essa última é estudada através de uma fórmula que considera o grau de participação da pessoa nas quatro tarefas básicas do lar: lavar, passar, limpar e cozinhar e para quantas pessoas estas tarefas eram feitas", explica.

Relatos de varizes, por exemplo, foram mais freqüentes entre essas mulheres, que estão expostas a longas jornadas de trabalho no hospital (mais de 40h/semana), alta sobrecarga doméstica e alta carga total de trabalho, que teve um ponto de corte de 84h/semana.

Outros resultados mostraram que relatos de enxaqueca foram mais freqüentes entre as pessoas com jornada de trabalho doméstico acima de 28 horas por semana. Esse mesmo grupo relatou ter distúrbios emocionais severos com maior freqüência em relação as que trabalharam menos horas em casa. Profissionais que trabalhavam mais de 40 horas no hospital se queixaram de falta de tempo para o descanso e lazer, para cuidar da casa, dos filhos e de si mesmos. A falta de tempo para cuidar de si próprio também foi relatada por aqueles expostos à alta sobrecarga doméstica.


Retirado do site: http://www.fiocruz.br/

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