Ele é pouco conhecido, costuma ser diagnosticado tardiamente e, no Brasil, já começa a ganhar contornos de verdadeira epidemia. Estamos falando do câncer de boca.
No País é a terceira maior incidência desse tipo de tumor do mundo – perde apenas para a Índia e a antiga Tchecoslováquia, nessa ordem.
Os dados do Instituto Nacional do Câncer, fechados no apagar das luzes de 2006, revelam que São Paulo é o estado campeão nesse tipo de incidência: são 3.960 novos casos por ano. Nacionalmente, foram 36.340 ocorrências. Atinge, indistintamente, homens e mulheres, embora esse último tipo seja o mais afetado. São 176 novos casos em cada 100 mil mulheres contra 42 para o mesmo grupo de homens. Óbitos de mulheres em conseqüência do câncer bucal aumentaram em 50% apenas nos últimos três anos. Adolescentes também apresentam índices de crescimento de incidência da doença.
Entendo que a negligência histórica do poder público com a atenção à saúde bucal explique o crescimento exacerbado do câncer bucal, especialmente entre as populações de menor poder aquisitivo. A precariedade de recursos odontológicos disponíveis para aos segmentos de baixa renda, aliado a pouca divulgação de programas profiláticos da doença – fala-se muito de câncer de mama, de colo de útero e de próstata, mas pouco de câncer de boca – contribui, significantemente, para a profusão desse tipo de caso, a maioria levando a morte.
O quadro é mais desolador ainda quando institutos especializados esperam, somente para este ano, mais 50 mil casos de câncer bucal. O alvo preferencial, mais uma vez, são as mulheres. A expectativa é de que devem ser diagnosticados, em 2007, cerca de 30 mil casos de câncer bucal entre a ala feminina. Número que é semelhante ao câncer de mama, a principal causa de morte em mulheres, no Brasil, desde 1980.
Apesar do dado alarmante, já caracterizando uma epidemia, é importante frisar que o câncer bucal tem cura quando diagnosticado no início – nesse estágio ainda é possível retirar a lesão com margem de segurança para evitar a reincidência. O grande problema no Brasil é que as pessoas, por desinformação – há inexistência de campanhas oficiais de prevenção – não procuram atendimento médico-odontológico na fase primária da moléstia. Se diagnosticado no estágio inicial da doença, as chances de cura chegam a 95%.
Aliado a existência de poucas campanhas educativas – porque não incluir, no currículo escolar, cadeiras de saúde bucal – o próprio programa de reabilitação oral lançado recentemente com pompas pelo atual governo, o Brasil Sorridente, limita-se muito mais a construção de laboratórios de próteses do que de centros odontológicos em condições de promover um leque de alternativas clínicas aos graves problemas da dentição, inclusive do próprio câncer bucal.
Está provado, cientificamente, que a maior incidência e mortalidade por câncer bucal é decorrente da má higienização e do uso de próteses desajustadas, com dentes gastos – o contato permanente com o processo mastigatório provoca trauma freqüente no tecido mole. Essas lesões, detectadas previamente, evitam que o problema se agrave e evolua para um caso de câncer bucal.O tabagismo também encabeça a lista de fatores de risco, seguido pelo alcoolismo – quem fuma tem de sete a oito vezes mais chance de desenvolver câncer de boca, enquanto quem bebe tem de três a quatro.
A grande realidade é que os governantes brasileiros ainda não transformaram os resultados da constante evolução científica na área odontológica em ações efetivas de proteção da dentição natural, maneira mais segura de evitar a propagação do câncer bucal. Até mesmo simples medidas preventivas, como a adição de flúor a água encanada – adotada apenas em algumas cidades brasileiras, mesmo assim sem nenhum controle efetivo – mais parece uma miragem, um sonho de uma noite de verão, que é uma realidade concreta.
Concreto também é o dado do Ministério da Saúde que aponta que cerca de 45% da população brasileira não têm acesso a escovas de dentes. Ora, porque não pensar, entre as ações efetivas de proteção da saúde bucal da população, no lançamento de um tipo de “bolsa-escova” - a distribuição de um kit, com escova e creme dental, pelo menos para o atendimento dos alunos da rede pública de ensino, num estágio inicial. Poderia até, numa fase mais avançada, ser agregada ao “bolsa família” – o recebimento desse benefício governamental estaria condicionado ao uso do kit dental, com avaliações periódicas de especialistas da área odontológica, especialmente em exames preventivos de câncer bucal e de outras doenças oral. Afinal, reconhecem os grandes estadistas, a prevenção é a primeira e mais rentável dos investimentos públicos.
Fonte: Odontologica.uol
Um comentário:
Não devemos direcionar esses cuidados somente aos odontológos, que na maioria das vezes não estam tão ligados à saúde pública, por que não chamarmos à atenção de enfermeiros, por exemplo, ja que estão diretamente em contato com o paciente como um todo. Dificilmente vc encontra alguém da aréa que ao realizar uma anamnese preocupa-se com a boca do paciente, e nos hospitais? acabam dando a responsabilidade da higiene aos acompanhantes, que na maioria das vezes não possuem o hábito de cuidar da cavidade oral e quando estes não possuem acompanhantes? Ficam a disposição das cáries, placas dentre outras enfermidades! E como trazer um dentista destinado a prestar esses cuidados dentro de grandes hospitais? e o custo? Quem poderá ter acesso? Então é preciso conscientizar os pofissionais que possuem esse acesso, e que podem fazer a diferença, não só em hospitais como em comunidades, postos de saúde, uma simples orientação, uma avaliação clínica... dai sim poderá haver mudanças!
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