Assim que se formam, os jovens ficam perdidos. Será que fazer uma pós-graduação logo após a faculdade é uma boa pedida? Conheça a opinião de quem fez e de quem entende do assunto.
Publicado em 16/08/2005 - 00:01
Me formei. E agora? Esta é a grande dúvida que paira sob a cabeça dos recém-formados. Fazer pós-graduação, enfrentar um batalhão de cursos menores ou se dedicar apenas à vida profissional, tirando férias dos estudos? Assim que se graduam, muitos jovens ficam perdidos sem saber o que fazer. E então fica a pergunta, será que cursar uma pós-graduação é uma boa solução?
Para a gerente de recrutamento e seleção da Gelre, Gerusa Mengarda, depende muito de como foi a graduação de cada um. "Se o recém-formado nunca trabalhou, não tem experiência nenhuma e parte para uma pós-graduação, isso não agrega, já que só vai alimentar o conhecimento técnico. Agora, se é um estudante que durante o curso já fez estágios e está inserido no mercado de trabalho, aí sim vale a pena", comenta.
É necessário que o recém-formado tenha em mente que a pós-graduação tem duas linhas distintas: a stricto e a lato sensu. A stricto compreende mestrado e doutorado. Já a lato, as especializações, MBA e mestrado profissionalizante. A escolha depende das aspirações futuras de cada um. Geralmente quem opta pelo mestrado ou doutorado pretende seguir na vida acadêmica e os que escolhem fazer uma especialização estão mais focados no mercado de trabalho."
No que diz respeito ao lato sensu, esse tipo de curso instrumentaliza para uma profissão, então o melhor momento para fazê-lo é imediatamente após a graduação para consolidar a formação profissional. Já para o mestrado e doutorado, devem tomar este caminho os egressos da graduação que almejam uma carreira acadêmica ou de pesquisador", opina a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Maria de Fátima Dias Costa.
A mestranda em Saúde Mental da USP (Universidade de São Paulo), Juliana Arantes Figueiredo, graduou-se em Psicologia em 2003 e já em 2005 ingressou no mestrado. "Era uma coisa que eu pensava em fazer desde a graduação, já tinha noção", conta.
A mestranda diz que está encontrando algumas dificuldades. "A maior dificuldade é ter disciplina para dar conta, porque na verdade é muito solto, os prazos são muito longos. O difícil para mim é me organizar no tempo", diz Juliana. Porém, ela conta que não se arrepende de ter entrado cedo no mestrado. "Era isso que eu queria, mas claro que tem vantagens e desvantagens. Quando você entra depois de uma experiência profissional grande, há outras questões. Por outro lado, existe muito incentivo para jovens pesquisadores pelas financiadoras e agências de fomento e, além disso, você está no ritmo da graduação".
Gerusa explica que o título de mestre ou doutor é válido nos meios acadêmicos, o mercado de trabalho em si, não valoriza. "Geralmente as pessoas que vão por esse caminho não conseguem se dedicar ao mercado, a não ser dando aula, inseridas no contexto acadêmico", conta.
A diretora de pós-graduação e pesquisa do Senac (Centro Universitário Senac), Flávia Feitosa, acredita que para se posicionar no mercado de trabalho é importante que a pessoa esteja constantemente se atualizando e estudando. "Hoje em dia, quando você se forma, não está necessariamente empregado e um dos principais motivos para uma pessoa fazer pós é em função da rede de relacionamentos, o famoso networking, que se forma quando está em uma sala de aula".
De maneira geral, a pós-graduação deve começar em tempo hábil, quer dizer, o mais cedo possível tanto na especialização quanto no mestrado/doutorado. "A pós completa a formação, então, se não é interessante no momento fazer uma stricto sensu, o aluno pode começar com a lato sensu para ir se instrumentalizando. É uma formação continuada", explica Maria de Fátima.
Foi o que fez o pós-graduado em Marketing e Gestão de Pessoas, Léo Cláudio Pereira. Assim que se formou em Economia, partiu para uma especialização em Marketing e, logo após terminá-la, emendou um MBA em Finanças e Gestão de Pessoas.
"A princípio, na especialização, não tive dificuldades, até porque o nível é mais baixo, mais fraco. Comecei a sentir dificuldades no ano seguinte, quando fui para o MBA. A complexidade das coisas que nós fazíamos até a desenvoltura que tinha que ter para toda semana apresentar seminário. É um pouco mais complicado", aponta Pereira.
Outra coisa que deve ser levada em conta são os objetivos da pessoa. Algumas preferem descansar por um tempo para fazer a pós-graduação com mais afinco. "Não adianta fazer uma pós só pelo título, tem que estar lá para estudar. Se não souber o que está fazendo de verdade o networking pode ir contra você, já que os colegas te observam", explica Flávia.
Instituição
Um ponto que merece bastante atenção é a escolha da instituição de ensino onde será feita a pós-graduação. Alguns cuidados básicos são essenciais para não haver frustrações futuras. Afinal, geralmente paga-se caro por uma pós-graduação, e se posteriormente acontecerem decepções, não há como voltar atrás.
A gerente de recrutamento e seleção da Gelre aconselha o candidato a procurar saber sobre a idoneidade da escola que está escolhendo, conversando com ex-alunos para saber qual foi o valor agregado e a aceitação do mercado de trabalho.
Além disso, é importante consultar a avaliação da Capes, que acompanha os cursos de mestrado e doutorado espalhados pelo país. A pró-reitora da UFBA lembra que o grande problema são os cursos lato sensu, que não são avaliados pelo MEC. É preciso critério na hora da escolha, já que em cada esquina tem um outdoor oferecendo diplomas de pós-graduação. "É muito importante que o aluno seja criterioso, investigue, pesquise, compare para não comprar gato por lebre", argumenta Maria de Fátima.
Foi o que fez o pós-graduando em Administração e Organização de Eventos no Senac, Lucas de Castro Meira Maia Santos. "Fiz Turismo no Senac e, durante as aulas, percebi que a faculdade tem um grande nome no mercado, principalmente de Turismo. Como o Senac é uma das poucas instituições que oferece essa pós-graduação, resolvi continuar minha formação lá mesmo no lato sensu", conta Santos.
A publicitária Cristiane de Barros Paggi também foi criteriosa em relação à escolha. Ela concluiu o MBA em Marketing na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) no ano passado. "Escolhi a ESPM primeiro porque a empresa me deu a oportunidade de bolsa e também pelo fato da escola ser considerada umas das melhores em marketing no país. Conversei, sim, com ex-alunos e professores para saber como era o esquema, se era ´puxado`", explica.
Planejamento
Planejar é a palavra-chave. Não páre para pensar na carreira apenas quando se formar. Essa é a dica que a recrutadora da Gelre dá aos estudantes. "Não espere se formar para buscar o mercado, porque quando se forma, já está competindo com pessoas de um outro nível de qualificação. Enquanto é estudante, compete com outros estudantes", completa Gerusa.
Existem jovens que, desde cedo, já sabem o que querem e traçam o caminho para chegar ao objetivo final. Outros ainda vacilam, já que o apelo mercadológico é grande e são muitas as coisas que interferem, desde aspectos culturais até econômicos.
"A questão não é ter uma pós. Quais são os seus objetivos, o que você quer estudar, trabalhar, quais suas pretensões e de que forma pretende conseguir atingir tudo isto. É preciso ter um sentido. A pessoa deve ter clareza do que quer", aconselha Flávia, do Senac. Defina seus objetivos e aí construa o caminho de acordo com as aspirações. Ter consciência daquilo que se busca já é um bom exercício.
Fonte: http://www.universia.com.br/
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