terça-feira, 31 de julho de 2007

Maconha equivale a cinco cigarros para pulmão

Fumar um cigarro de maconha tem os mesmos efeitos sobre os pulmões humanos que fumar entre 2,5 e 5 cigarros compostos unicamente de tabaco, ressalta um estudo realizado na Nova Zelândia e divulgado na noite de segunda para terça-feira no site da revista especializada Thorax.

Richard Beasley, do Instituto de Pesquisa Médica da Nova Zelândia, e sua equipe compararam os efeitos da maconha e do tabaco nos 339 adultos que participaram de um estudo sobre saúde respiratória.

Os voluntários foram divididos em quatro grupos: os que fumavam somente maconha, os que fumavam apenas tabaco, aqueles que fumavam ambas as substâncias e aqueles que não fumavam nenhuma delas.

Cada um dos participantes foi submetido a uma série de exames de tomodensitometria dos pulmões (um escaner de radiografias aliado a um computador) assim como a testes respiratórios.

"A principal descoberta é que um cigarro de maconha é similar a entre 2,5 e 5 cigarros de tabaco em termos de obstrução respiratória", frisaram os cientistas.

A equivalência é coerente com os níveis de carboxihemoglobina (forma de hemoglobina tóxica porque se associa ao monóxido de carbono e ao oxigênio) e de alcatrão, que são entre 3 e 5 vezes maiores em um cigarro de maconha do que em um normal.

O estudo também mostra que os fumantes de maconha produzem assobios ao respirar, tossem, e sofrem com pressão no peito e expectorações.

Além disso, o consumo de maconha causa uma degradação do funcionamento dos brônquios, com obstrução respiratória, fazendo com que os pulmões sejam obrigados a realizar um esforço maior.

Os cientistas constataram, no entanto, que o enfisema, uma doença pulmonar que pode evoluir para uma insuficiência respiratória crônica, aparece quase que exclusivamente apenas em fumantes de tabaco ou de ambas as substâncias, mas não naqueles que fumam apenas maconha.

Os pesquisadores ressaltaram que os efeitos da maconha sobre os pulmões se devem à forma como se fuma esta substância: sem filtro e com tragadas mais profundas e longas.

Fonte: AFP

Estudo reverte resistência à insulina em diabete I

Uma nova terapia experimental reverteu a diabete do tipo I em ratos, em parte graças a um novo enfoque no combate à resistência à insulina nesta forma da doença, disseram nesta segunda-feira os pesquisadores.

A resistência à insulina foi durante muito tempo uma característica da diabete tipo II ou de surgimento tardio, mas só recentemente foi identificada como um componente da diabete juvenil ou de tipo I.

Com este estudo, os pesquisadores mostraram pela primeira vez que tratar a inflamação vinculada à resistência à insulina assim como o componente auto-imune da doença pode revertê-la, se esta for detectada a tempo.

"Acreditamos que este é o primeiro estudo que mostra que a inflamação nos tecidos sensíveis à insulina desempenha um papel importante nesta doença", disse Terry Strom, professor de Medicina da Escola Médica de Harvard e co-autor do estudo.

A diabete de tipo I é uma desordem auto-imune na qual o próprio sistema imunológico do corpo ataca as células do pâncreas que produzem a insulina hormonal que regula o açúcar no sangue.
O resultado é que o paciente não pode produzir insulina suficiente, e por isso deve complementá-la com versões sintéticas do hormônio, em geral por meio de injeções.

A doença aumenta os riscos outras complicações, que vão de problemas no coração, à cegueira e danos nos nervos.

Neste experimento, os pesquisadores trataram ratos com uma diabete incipiente com um coquetel de três substâncias que impediram que as células T do organismo destruíssem as células do pâncreas que produzem insulina e também eliminaram a inflamação que afetava a capacidade dos tecidos dos músculos, da gordura e do fígado para metabolizar adequadamente a insulina.

Os ratos foram tratados durante um período de 14 a 28 dias, e em cinco a sete semanas, 95% deles tinham níveis normais de açúcar no sangue e conseguiram controlar seu nível de açúcar durante 300 dias.

Em contraste, os ratos não medicados desenvolveram hipoglicemia e a maioria morreu em cerca de sete semanas, inclusive com tratamento de insulina.

Os resultados sugerem que qualquer terapia que busca deter o desenvolvimento da diabete em humanos deveria não só se centrar na desordem das células T, como também na restauração da resposta à insulina nos tecidos afetados pela inflamação.

Strom afirmou que em um ano começarão os testes clínicos do tratamento em humanos.
O estudo foi divulgado nos Anais da Academia Nacional de Ciências.

Fonte: EFE

Relação entre diabetes mellitus e síndrome das pernas inquietas

A síndrome das pernas inquietas é uma desordem do sono, caracterizada por movimentos periódicos e involuntários dos membros inferiores, enquanto o paciente está dormindo. Os movimentos costumam ser estereotipados e rítmicos, recorrendo geralmente a cada 10 a 120 segundos. O risco de ocorrência se eleva com a idade, e depende da presença de doenças neurológicas ou metabólicas e da história familiar positiva, para a enfermidade. A doença costuma resultar em insônia e sonolência diurna excessivas.

No intuito de verificar a relação existente entre o diabetes mellitus e a síndrome das pernas inquietas, um grupo de pesquisadores italianos publicou um estudo no Journal Sleep, em Julho de 2007. Participaram da pesquisa 124 pacientes, portadores de diabetes mellitus, além de 87 indivíduos, portadores de outras enfermidades endócrinas, que constituíram o grupo controle.

Os resultados divulgados revelaram que 17,7% dos pacientes, com diabetes mellitus, apresentavam quadro clínico compatível com síndrome das pernas inquietas. Por sua vez, apenas 5,5% dos indivíduos do grupo controle, demonstravam este diagnóstico. Os diabéticos, com diagnóstico deste distúrbio do sono, possuíam maior prevalência de polineuropatia (27%) e história familiar positiva da doença, em comparação aos diabéticos não portadores da síndrome das pernas inquietas.

Assim, os autores concluem que existe relação entre o diabetes mellitus e a síndrome das pernas inquietas. A polineuropatia diabética funciona como marcador de maior risco de surgimento desse distúrbio do sono.

Fonte: Journal Sleep

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Conferência apresenta novos tratamentos para o HIV


A IV Conferência sobre Patogênese e Tratamento do HIV, que terminou hoje em Sydney (Austrália), apresentou novos métodos de tratamento e pediu que os avanços científicos sejam aplicados mundialmente.

"É necessário expandir os sistemas de saúde pública" para alcançar o acesso universal aos remédios para o tratamento da aids, disse o co-presidente da reunião Pedro Cahn.

Para o co-presidente e diretor do Centro Nacional de Epidemiologia e Pesquisa Clínica sobre o HIV da Austrália, David Cooper, "só a boa ciência e a boa pesquisa podem assegurar que a aplicação do tratamento ocorra para garantir o maior benefício da população mais necessitada".

A Declaração de Sydney pede que 10% de todos os recursos dedicados à aids e ao HIV sejam destinados à pesquisa.

Durante os quatro dias de Conferência, na qual participaram quase 7 mil pessoas, se apresentaram mais de mil que, segundo Cooper, serviram para "ressaltar o enorme potencial dos remédios e novas classes de remédios e novas formas de prevenção".

Em matéria clínica, quando se acreditava que não poderiam existir mais avanços, surgem novos remédios e formas de utilizar os já aplicados para melhorar os resultados, afirmou o membro do Centro Nacional de Epidemiologia e Pesquisa Clínica do HIV da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália) Sean Emery.

Na Conferência foram apresentados novos anti-retrovirais que melhoram a qualidade de vida dos soropositivos, ainda em uma etapa inicial, mas que estão sendo testados como nova opção de tratamento genético.

Pelo lado negativo, foi registrado que só 15% das crianças infectadas pelo HIV no mundo recebem o tratamento necessário. Por isso, os especialistas pediram que os laboratórios farmacêuticos melhorem a qualidade dos produtos voltados para a infância.

Para Emery, a pesquisa é cada vez mais complexa, o que "deriva da insistência em adiar o uso dos anti-retrovirais". O comentário ressalta o desacordo dos cientistas sobre em que etapa da doença é necessário iniciar o uso desses remédios.

O debate, existente no tratamento dos doentes adultos, foi ampliado hoje com a apresentação de um estudo que assegura que a identificação imediata da infecção e aplicação de anti-retrovirais nas primeiras 12 semanas de vida permitem uma redução de 75% da mortalidade entre os bebês.Lisa Marr, colega de Emery no mesmo centro, afirmou que em matéria de prevenção a Conferência pediu o aumento do esforço para encontrar métodos eficientes de prevenção que possam ser usados por mulheres.

Segundo Marr, nenhum dos sistemas atuais é realmente efetivo, tanto os preservativos para mulheres como os diafragmas com géis lubrificantes ou os microbicidas. No entanto, a possibilidade de encontrar métodos efetivos é vista pelos especialistas com um "otimismo moderado".

Marr disse que a situação dos homens é muito mais favorável porque o preservativo é um sistema comprovadamente eficaz. Durante a Conferência, uma equipe americana propôs a circuncisão como método preventivo da transmissão do HIV, com base em estudos realizados na África.

A questão mais polêmica da reunião foi o do alto número de pessoas que nunca fez o teste e não sabe se possui ou não o vírus. No início, foi sugerida a obrigatoriedade do exame, mas a idéia foi descartada porque entrava em conflito com direitos humanos.

O presidente eleito da Sociedade Internacional de Aids, o argentino Julio Montaner, disse que os avanços científicos discutidos na Conferência devem buscar a aplicação prática até a próxima reunião, em 2008 no México.

"A grande preocupação é em que medida estamos conseguindo salvar a grande dicotomia entre o grande avanço nos conhecimentos e o grande retrocesso na aplicação destes conhecimentos", acrescentou.

Fonte: EFE

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Maconha pode favorecer surgimento de esquizofrenia


O consumo de cannabis, planta da qual se produz maconha e haxixe, pode favorecer o aparecimento de sintomas de esquizofrenia e outros tipos de psicoses, afirmaram os autores de uma pesquisa feita na Clínica Universitária Psiquiátrica de Zurique, baseada na recopilação de dados clínicos durante 30 anos.

Em artigo publicado hoje, na revista especializada Schizophrenia Research, os pesquisadores afirmam que a "cannabis é menos inofensiva do que se pensava", e recomendam a reavaliação dos fatores de risco propiciados pelo consumo dessa substância, e sua influência no desenvolvimento de doenças psíquicas.

Os autores da pesquisa recomendam que, em princípio, as pessoas com tendência a desenvolver tais patologias, seja por suscetibilidade pessoal ou histórico familiar, renunciem ao consumo da cannabis.

Dirigida pelos cientistas Wulf Rossler e Vladeta Ajdacic, o estudo permitiu determinar um aumento dos casos de esquizofrenia nos jovens de Zurique nos anos 90, em relação ao consumo de maconha e haxixe.

Esse resultado surgiu da análise do registro de entradas em centros psiquiátricos dessa cidade, entre os anos de 1977 e 2005.

Mais concretamente, as estatísticas apontam que, entre os jovens de 15 a 19 anos, os casos de psicoses esquizofrênicas aumentaram de 20 para 50, por cada 100 mil habitantes, entre 1990 e 1998.

Os pesquisadores relacionaram essa tendência ao aumento do consumo de cannabis por usuários cada vez mais jovens. Segundo o artigo, uma evidência disso seria que o consumo da droga entre adolescentes do sexo masculino, com idades entre 15 e 16, anos passou de 15% para 40% nesse período.

Outra revelação é que o aumento das doenças psiquiátricas foi particularmente grande entre os homens jovens, em relação a mulheres e outros grupos etários.

Além disso, os autores do estudo revelam que a combinação de cannabis e de ecstasy aumentou o surgimento de psicoses na década de 90, embora reconheçam que não contam com provas definitivas a esse respeito.

Fonte: EFE

Consolidação dos Conselhos Municipais de Saúde depende de superação dos desafios

A pesquisa Monitoramento e apoio à gestão participativa do SUS, financiada pela Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde e realizada por um grupo de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, mostrou que a maioria dos Conselhos Municipais de Saúde funciona com dificuldade (70%) ou de forma incipiente (17%), apenas 1% dos Conselhos atinge o patamar de pleno funcionamento estabelecido na 12ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) e pouco mais de 10% funcionam bem. Para comentar esse resultado, o Informe Ensp conversou com o pesquisador Marcelo Rasga Moreira, coordenador, com Sarah Escorel, do estudo. Ele aproveitou para tratar de importantes questões relacionadas à retomada da participação popular e ao fortalecimento do controle social e adiantar o lançamento da versão definitiva do site ParticipaNet SUS.

Moreira: temos que superar os problemas estruturais, de organização e orçamento que impedem o pleno funcionamento dos Conselhos (Foto: Luis Seito)

Os resultados da pesquisa sobre os Conselhos Municipais de Saúde (CMS) causam, em princípio, um certo desânimo. Essa primeira impressão é verdadeira? A situação é tão ruim quanto parece?

Marcelo Rasga Moreira: O quadro aparentemente não é favorável, mas quando analisamos detalhadamente a situação, ela acaba não sendo tão alarmante. Em primeiro lugar, devemos considerar que os CMS passaram pela chamada etapa de implementação, que vai desde 1990, com a Lei 8.142, que regulamenta os Conselhos de Saúde, até o marco simbólico de 2005, quando é criado o CMS de Cedral, no Maranhão, e se completa 100% dos municípios com Conselho. Nesse período, o número de municípios aumentou mais de 22%, passando de menos de 4.500 para mais de 5.500, muitos deles criados segundo critérios predominantemente políticos, sem participação da sociedade civil organizada e completamente dependente de recursos federais. Além disso, os anos 90 foram marcados, pelo menos na área da saúde, por uma disputa de reformas: a Reforma Sanitária, com o ideário da 8ª Conferência e a crença num Estado forte, voltado para a defesa dos interesses dos cidadãos, e, num plano político maior, a reforma administrativa de cunho neoliberal, que começa no governo Collor e se fortalece nas duas gestões de FHC. Fora isso, é um período de redemocratização do país, após o tempo da ditadura. Apesar de tudo isso, conseguimos criar uma imensa rede de CMS na qual alguns funcionam bem, outros funcionam mal e outros simplesmente não funcionam, mas estão todos criados.

Então, numa visão histórica, o quadro seria bastante positivo?

Moreira: Bem, hoje, nós temos em torno de 76 mil conselheiros municipais de saúde, sendo que 50% deles representam os usuários. Isto é um fato sem precedentes na nossa história política. Os atuais conselhos de saúde, que estão inseridos no contexto dos conselhos gestores de políticas públicas, são instâncias políticas inovadoras e muito diferentes daquelas que o Brasil está acostumado. Numa visão histórica, devemos lembrar que nenhuma das instituições políticas hoje consagradas conseguiu se consolidar em 15 ou 20 anos. Isso é muito difícil, sobretudo quando se trata de uma instância que tem a grande função de partilhar poder.

Que tipo de impacto isso traz?

Moreira: Uma das principais atribuições dos Conselhos de Saúde é trazer os usuários do SUS e a sociedade civil organizada para a discussão institucionalizada do ciclo de políticas de saúde do seu município. Isso faz com que prefeitos, muitas vezes eleitos com milhares ou até milhões de votos e que, de certa forma, consideram que recebem da população um "cheque em branco" para governar, tenham que debater com os conselheiros e prestar contas ao Conselho, pelo menos no que diz respeito às políticas de saúde. São instituições da democracia representativa tendo que se aproximar de instâncias da democracia participativa para elaborar e implementar políticas, ou seja, um complexo "processo de encaixe" que não consegue ser imediatamente consolidado e que depende, também, da superação de alguns aspectos históricos do país: clientelismo, nepotismo e falta de cultura participativa, entre outros. Eu costumo dizer que nós ainda não batemos o nosso recorde de persistência democrática: se contarmos a partir da constituição de 1988 ainda não ultrapassamos, em número de anos, o período de 1945 a 1964. Somos uma "redemocracia" muito nova e, por isso, eu não encaro o cenário dos Conselhos Municipais de Saúde como desanimador, mas como altamente desafiador e possibilitador.

E quais são os principais desafios?

Moreira: Num primeiro momento, superar os problemas estruturais, de organização e orçamento que impedem o pleno funcionamento dos Conselhos, o que acreditamos ser possível resolver com certa facilidade, tendo em vista que o Ministério da Saúde está sensibilizado para, com práticas de gestão participativa e de aproximação às prefeituras, apoiar os CMS. Ao mesmo tempo, é preciso aprimorar as práticas de participação social e fortalecer o controle social, desafios que estão, por um lado, diretamente relacionados à questão da "educação permanente" dos conselheiros, os quais, durante a pesquisa, apontaram a capacitação como fundamental para a compreensão e o exercício das funções do conselho, em especial o controle social. Por outro lado, é preciso que haja um movimento de aproximação mútua entre os conselhos de saúde e outras instituições públicas que também têm como atribuição fiscalizar o poder público – Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público (MP), Senado e Câmara, entre outras – e que têm, além disso, atribuições legais, recursos e expertise para serem parceiros na formação de uma rede de controle. Rede esse que, além de tudo, permitiria que os conselheiros dedicassem mais tempo à participação no ciclo de políticas, em especial na formulação e no acompanhamento da implementação.

O senhor poderia explicar melhor essa idéia de rede de controle?

Moreira: Na pesquisa, constatamos que há Conselhos que, em suas reuniões, discutem, ainda que de forma "epidérmica", questões como a do superfaturamento nas compras de ambulância, que tanto espaço ganhou na mídia. O problema é que, para produzir resultados como a descoberta de fraude, o que muitas vezes se cobra dos conselhos, os conselheiros seriam forçados a agir como detetives, tendo que descobrir no orçamento onde está o furo, onde está o desvio de verba, onde houve favorecimento nas licitações... E eles não têm condições de fazer isto. A pesquisa, no entanto, identificou 18 instituições – que chamamos de "atores-chave" – cuja função é fiscalizar o uso dos recursos públicos. Nós defendemos que é fundamental mobilizar essas (e outras) instituições e estreitar a relação dos conselhos com elas. Nesse sentido, caberia aos conselhos identificar e encaminhar o problema à instituição competente, monitorar o processo de apuração e receber pareceres técnicos para que possam deliberar sobre o assunto, sem esquecer de comunicar à sociedade os resultados.

O agir em rede com essas instituições pode trazer um grande incremento à ação dos conselhos, ainda mais porque todas aquelas que foram identificadas pela pesquisa já possuem estratégias e ações para se aproximarem da sociedade, embora estas ainda sejam esparsas, não-articuladas e pouco utilizadas.

Como pensar um processo de capacitação ou de "educação continuada" para um grupo que está sempre mudando?

Moreira: O Conselho Nacional de Saúde aprovou, em 2005, a Política Nacional de Educação Permanente para Controle Social no SUS, numa tentativa de superar esse problema e atender essa demanda. O importante é pensar a educação continuada de forma institucionalizada, ou seja, como algo que permaneça nos Conselhos, independentemente dos conselheiros que lá estejam. Além disso, também é preciso inserir a sociedade civil organizada nesse processo, por meio, por exemplo, das associações de moradores e dos sindicatos, duas das principais representações da sociedade civil nos Conselhos. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, participa, como instituição, em vários Conselhos e sindicatos filiados à CUT em outros tantos. Então, é possível transformar esses atores dispersos em atores coletivos, a partir de um processo de capacitação e educação continuada que vai interferir diretamente na qualidade do trabalho dos conselheiros. A educação permanente é um recurso indispensável para a conquista da autonomia dos Conselhos. Os conselheiros devem ter clareza das atribuições do Conselho e de suas possibilidades de atuarem em rede com instituições que podem ser acionados quando o poder público falha no cumprimento de suas obrigações. A idéia é que capacitar individualmente os conselheiros, apesar de importante, pois eles atuam como disseminadores, deve ser expandida para a qualificação da atuação dos Conselhos, que passariam a contar com ferramentas e instrumentos permanentes, a serem aproveitadas independente da saída dos conselheiros.

É possível que o atual descrédito da população nas instâncias da democracia representativa ajude a fortalecer os conselhos gestores, instâncias de democracia participativa?

Moreira: Um dos problemas mais graves é que boa parte da população não vê mais a política como um instrumento que pode melhorar suas condições de vida. A idéia corrente é que essa melhoria deve ser resultante de decisões e ações individuais, o que estimula competições viscerais em todos os níveis da vida e atrapalha qualquer forma de democracia. Por outro lado, são as situações difíceis que trazem oportunidades de superação. Se vamos aproveitar ou não essas oportunidades, aí é outra história. Podemos conseguir grandes avanços, mas é preciso que haja, por parte do poder público, da sociedade organizada e da academia, entre outros, um certo nível de organização, de gestão participativa, de mobilização e de comprometimento. Não podemos esquecer que toda essa idéia de participação e controle social aflora num momento de ausência completa de democracia, quando pensar nisso chegava a ser uma ameaça à vida.

Quem são os conselheiros de saúde? A classe média, cujo afastamento colaborou para a deterioração dos serviços públicos, participa dos Conselhos?

Moreira: A pesquisa não trabalhou com a identificação de conselheiros, mas das entidades que representam cada segmento da sociedade. No caso dos usuários, o grupo mais participante é o das associações de moradores, seguido dos sindicatos, das entidades religiosas e das associações de portadores de doenças crônicas. No caso da classe média, ela é representada principalmente no segmento dos trabalhadores de saúde e dos prestadores de serviços, mas nada impede que os representantes das associações de moradores e dos sindicatos sejam oriundos dessa camada social, cuja participação é importante na medida em que ela tem alta capacidade e mais espaços formalizados de pressão sobre o poder público. É muito importante que se redescubra o "público" no Brasil, principalmente nas áreas da saúde e da educação, e que essa redescoberta sirva como instrumento de pressão e vocalização das demandas sociais perante os gestores. Precisamos resgatar a participação da população. Existem conselhos gestores em várias as áreas – saúde, educação, ambiente, infância e adolescência – e trabalhar esses conselhos no âmbito da reforma política é algo essencial.

No caso do SUS, por exemplo, há uma proposta no Ministério para a criação das fundações públicas de direito privado e um dos principais pontos dessa proposta, que considero positiva para o SUS, está na regulação, no controle sobre os contratos, os objetivos, as metas, os resultados que estas fundações devem obter. Os Conselhos de Saúde atuam sobre estes pontos e, portanto, deveriam ser chamados, incentivados e apoiados a participar dessa regulação. Acredito que o MS vai fazer isso, por sua atual trajetória e porque vivemos um momento político no qual a participação social é cada vez mais necessária e deve ser estimulada, e os Conselhos são um espaço privilegiado para isso.

De que maneira a população pode se aproximar dos Conselhos?

Moreira: A participação do cidadão, como indivíduo, ocorre nas reuniões mensais do CMS, que são abertas à população, que, na maioria dos CMS, tem direito à voz. Para participar como conselheiro, ele deve buscar se integrar a alguma entidade, que possa pleitear uma vaga. Ao longo do que chamamos de etapa de consolidação, a partir de 2005, acreditamos que novos mecanismos de participação individual possam ser implantados como, por exemplo, as urnas utilizadas na última Conferência Municipal de Recife, nas quais o cidadão podia depositar suas solicitações, um mecanismo simples, mas de alta repercussão.

Como tem sido a atuação da mídia no sentido de fortalecer a participação popular e o controle social?

Moreira: No caso da grande mídia, a contribuição é muito pequena, principalmente se considerarmos seu potencial e a quantidade de recursos disponíveis. O Canal Saúde consegue romper esta barreira, mesmo assim sendo restrito às TVs públicas e alguns canais a cabo. Os meios de comunicação, principalmente a televisão, têm muita capacidade de produzir informações essenciais para a melhoria da sociedade por conta da sua capilaridade . Infelizmente, os interesses comerciais acabam sobrepujando de longe os interesses públicos, os interesses sociais. A TV pública que o governo federal está criando parece ser um espaço muito interessante e que pode trazer grandes contribuições. Contudo, considero que as mídias alternativas, aquelas que querem achar o seu próprio caminho, são as que trazem mais oportunidades, pois há um espaço novo a ser explorado e, neste espaço, a internet parece ser um campo bastante promissor.

Mas ela ainda não seria uma mídia elitista?

Moreira: Ainda é, mas, mesmo no Brasil, o número de pessoas com acesso à rede cresce exponencialmente, além de também ter ocorrido uma sensível aumento na venda de microcomputadores nos últimos anos. O acesso à rede no trabalho e nas lan houses também vem crescendo. Na eleição de 2006, por exemplo, a internet foi considerada fundamental para uma contraposição à posição política encampada pela grande mídia. Hoje, a TV ainda é a mídia predominante, mas a convergência TV-internet já está chegando ao mercado e, numa sociedade capitalista, quando o mercado decide, tudo fica muito rápido. As mídias alternativas terão que atuar nesta decisão do mercado e crescerem por seus próprios caminhos. E, diga-se, muitas têm feito isto com sucesso.

Como a pesquisa lida com isto e com a questão da inovação tecnológica? O que é o ParticipaNet SUS?

Moreira: A pesquisa aposta nas novas mídias e na idéia de inovação tecnológica, desde que elas também representem uma inovação metodológica capaz de facilitar o trabalho do pesquisador e a disseminação de seus resultados. Nossa proposta inclui o desenvolvimento de uma estrutura virtual de trabalho e pesquisa (EVTP) – o ParticipaNet SUS – um site que torna público: um banco de dados com cerca de 40 variáveis que podem ser cruzadas de acordo com a necessidade dos interessados; análises feitas pelo grupo; e recursos que ajudem acadêmicos, estudantes, gestores e cidadãos a entender o que são os conselhos e o que é controle social, a levantar informações para melhorar sua vida e também a disseminar uma nova cultura. Atualmente, está disponível na internet uma versão preliminar da ferramenta, a ser substituída, até agosto, pela versão definitiva.

Para concluir, qual o papel da Ensp nesse processo?

Moreira: A Ensp sempre teve uma atuação voltada para o apoio aos Conselhos, basta evocar o nome de Sergio Arouca. Além disso, o primeiro estudo de âmbito nacional sobre o tema, realizado em 1994/95, foi coordenado pelo atual diretor da Escola, Antônio Ivo de Carvalho, e até hoje é uma referência. Ao longo dos anos, vários pesquisadores como Sarah Escorel, Eliana Labra, Victor Valla, Eduardo Stotz e outros tão importante quanto, vêm contribuindo com sua expertise no desenvolvimento de pesquisas e de ações práticas que, como a nossa, produzem informações e evidências capazes de subsidiar o estabelecimento de políticas públicas e de orientar a ação dos gestores para a solução dos problemas identificados. A Escola já produziu cursos de capacitação e também tem condições de produzir instrumentos para a educação permanente dos conselheiros, além de sua diretriz de estabelecer cooperação técnica com os Conselhos Pelo apoio que temos recebido, percebemos que esta atuação ainda pode aumentar, aprimorar-se e contribuir ainda mais para os Conselhos.

Fonte: Agência Fiocruz

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Industria de correlatos: sondas comuns

Indústria de Correlatos: SONDAS COMUNS

Por Ubaldo Rizzaldo Jr. *

RESUMO

Com mais de uma década de experiência neste campo da indústria de correlatos, trago aos meus outros colegas profissionais de saúde, principalmente àqueles que coordenam, por exemplo, almoxarifados hospitalares e lidam diariamente com este tipo de material, as observações que tive oportunidade de constatar. Nesta área específica de sondas de alívio existe muita desinformação, não talvez nos grandes centros, mas pelo Brasil todo muito equívoco de função e especificação é executado. Meu artigo tem por intenção trazer algum esclarecimento e amenizar dúvidas.

INTRODUÇÃO

Sondagem é a colocação de sondas nos orifícios naturais do organismo ou através de abertura da pele com a finalidade de extrair líquidos retidos, diagnóstico ou penetração de alguma substância. As sondas são em geral de borracha ou plásticos semi-rígidos, atóxicos. São de secção cilíndrica e comprimentos variáveis para atingir órgãos em várias profundidades. São usadas de preferência tubos confeccionados de PVC por serem atóxicos, de superfície lisa e terem baixo poder aderente às secreções. Os tamanhos padronizados dos diâmetros externos do cateter e a maioria dos instrumentos endoscópicos são fornecidos de acordo com a escala francesa de Charriére (unidades de 0,33 mm = 1 French [F] ou 1 Charriére [Charr]). Assim, 3F é igual a 1 mm de diâmetro.

ESPECIFICAÇÕES

Sonda retal - A sonda retal é indicada para aliviar a tensão provocada por gases e líquidos no intestino grosso . Utilizável também para retirada de conteúdo fecal através do reto. A sonda retal tem 1 orifício lateral e 1 orifício frontal (extremidade aberta), baseado na finalidade da sonda, que é aliviar a tensão provocada por gases e líquidos no intestino grosso, bem como, para retirada de conteúdo fecal através do reto, tem-se a necessidade de, conforme a situação, retirada de materiais, inclusive sólidos. A abertura frontal dará mais bem resultado na sucção do material sólido, trabalho que o orifício lateral responderia com eficiência (capacidade), mas não com eficácia (que produz o efeito desejado; que dá bom resultado).

Sonda traqueal comum e com válvula de pressão negativa - Usada para aspiração de secreções mais profundas nos pulmões. É indicada a pacientes impossibilitados de eliminar as secreções e pacientes intubados e traqueostomizados. A sucção é realizada por um equipamento apropriado. Se em vez de conector tivermos a válvula o próprio operador da sonda tem condição de interromper ou diminuir o fluxo de sucção sem mexer diretamente no equipamento ou estrangulando o tubo. A sonda para aspiração traqueal tem 2 orifícios laterais e 1 orifício frontal (extremidade aberta), pois feita para aspirar, via de regra, muco da região da traquéia, tem os orifícios laterais unidos ao frontal que tratarão de dar o devido parâmetro de limpeza à região. Não temos 4 orifícios laterais porque já que a sucção é realizada por aparelho mecânico geralmente (aspirador cirúrgico) o excesso de sucção devido ao número excessivo de orifícios pode vir a colapsar a traquéia causando lesão aos tecidos no local (colapso = estado anormal em que as paredes de um órgão, normalmente afastadas, entram em contato).

Sonda uretral - Usada para preparo pré-operatório, para diminuir o perigo de lesão vesical (bexiga); para evitar que o paciente urine de forma espontânea após operações; para aliviar aumento da bexiga pela retenção de urina; para evitar constante umidade em pacientes com incontinência e/ou e casos excepcionais, para obter amostra estéril de urina. O tempo máximo de permanência é de alguns minutos, por se tratar sonda de alívio, após o procedimento deve ser imediatamente retirada e descartada. A sonda uretral (vesical) tem 1 orifício lateral e nenhum orifício frontal (extremidade fechada) pois sempre o líquido flui do ambiente de maior pressão para o de menor pressão portanto não há uso de equipamento. Não se deve forçar a saída do líquido da bexiga, com o risco de lesões internas e rompimento do canal, o processo deve ser natural pela sonda. Se tivéssemos mais de 1(um) orifício na sonda poderia ocorrer o fluir do líquido entre os diversos furos dentro da bexiga do paciente, pois os orifícios da sonda, vão funcionar como porta de entrada e saída do líquido e retardam um processo que flui mais velozmente quando do uso de um único orifício de entrada para o exterior. No caso de mais orifícios o líquido devido ao processo natural, vai ficar "circulando" dentro da sonda em vez de sair rapidamente, o que acarretaria demora e incomodo ao paciente.

Sonda Nasogástrica - Em regra geral curta para crianças e longa para adultos. Utilizada com finalidade de alimentação, quando por alguma razão o paciente não pode utilizar a boca no processo de digestão e administração de medicamentos. Ex: câncer de língua, anorexia, repouso pós-cirúrgico. A sonda nasogástrica tem 2 orifícios laterais e nenhum orifício frontal (extremidade fechada) para ser usada na nutrição entérica (estomacal). Este número de orifícios tem função de dosar a entrada do líquido administrado; como este entra por pressão da gravidade e se o processo ainda for veloz, pode causar desconforto (ex.: náuseas) ao paciente, devido ao volume de líquido espesso e de modo rápido dentro do órgão.

Sonda Levine - Quando o objetivo é drenar líquidos intra-gástrico (dentro do estomago), a saber: - esverdeado: bile / cor de borra de café: bile e sangue / sanguinolento vivo ou sanguinolento escuro amarelado. Podemos exemplificar a necessidade com cirurgias onde no pós-operatório se deseja o repouso do sistema digestivo e, também em casos de intoxicação exógena (originada ou produzida exteriormente), onde o conteúdo ingerido precisa ser removido rapidamente. A sonda Levin(e) tem 4 orifícios laterais e 1 orifício frontal (extremidade aberta) pois Igualmente a sonda traqueal esta sonda tem como principal função aspirar conteúdo de uma região. Entretanto neste caso a região é o trato gastrintestinal e os objetos de aspiração são líquidos estomacais. Novamente os orifícios laterais unidos ao frontal, trataram de dar o devido parâmetro de limpeza à região. Não temos somente 2 orifícios laterais porque a sucção realizada é em órgão com capacidade de grandes volumes o que acarretaria demora e incomodo ao paciente.

Cateter de Oxigênio Tipo Sonda - Aplicação de oxigênio por cateter nasal, para auxiliar na respiração do paciente. Introdução de parte do produto dentro da narina até atingir o ponto ideal de aplicação do oxigênio. Oxigenioterapia = é a administração de oxigênio que é um gás essencial para o ser humano. Pode ser realizada através de cateter nasal, nebulização contínua, inalação e tenda de oxigênio. O catéter para oxigênio tipo sonda tem 4 orifícios laterais e nenhum orifício frontal (extremidade fechada) pois o uso de 4 orifícios laterais, e não só 1 lateral, ou 2 laterais, ou 2 laterais e 1 frontal, ou 4 laterais e 1 frontal, é devido que o excesso de oxigênio em região com mucosa causa lesão com conseqüente necrose de células. A medida de entrada assim, melhor resultou com esta capacidade de transferência na oxigenioterapia.

OBSERVAÇÕES

É contra-indicado o uso da sonda de aspiração traqueal como uretral devido a quantidade maior de furos na SAT que na SU: pode vir a trazer a sensação errônea ao operador da sonda que o fim da drenagem foi alcançado, trazendo então desconforto ainda ao paciente que não terá o alívio ideal atingido, ou ainda, pode correr maior possibilidade de traumatismos no canal uretral durante a colocação e/ou retirada da sonda, ou mesmo, pode ocorrer o fluir do líquido entre os diversos furos dentro da bexiga do paciente, pois os três furos da sonda, vão funcionar como porta de entrada e saída do líquido e retardam um processo que flui mais veloz quando do uso de um único furo de entrada. No caso da SAT o líquido devido ao processo natural, vai ficar "circulando" dentro da sonda em vez de sair. Importante salientar que não se deve forçar a saída do líquido da bexiga, com o risco de lesões internas e rompimento do canal, o processo deve ser natural pela sonda.

A Sonda Nasogástrica é um tubo de cloreto de polivinila (PVC) que quando prescrito, deve ser tecnicamente introduzido desde as narinas até o estômago. Sua finalidade está associada à maneira como ficará instalada no paciente. Ela pode ser aberta ou fechada. Sonda Nasogástrica aberta com 4 furos, também chamada de sonda Levin (Levine, aportuguesado) é usada quando o objetivo é drenar líquidos intra-gástrico. No pós-operatório que se deseje o repouso do sistema digestivo e nos casos de intoxicação exógena, onde o conteúdo ingerido precisa ser removido rapidamente a SN é usada. Já a Sonda Nasogástrica fechada com 2 furos é utilizada com finalidade de alimentação, quando por alguma razão o paciente não pode utilizar a boca no processo de digestão e administração de medicamentos. Ex: câncer de língua, anorexia, repouso pós cirúrgico.

O tempo máximo de permanência da sonda uretral num paciente é de alguns minutos, por se tratar sonda de alívio, após o procedimento deve ser imediatamente retirada e descartada. A contra indicação da permanência de uso prolongado da SU é que se deve evitar tal atitude por se tratar de sonda de alívio, não é indicado o seu uso prolongado. Mesmo se for utilizado método asséptico semelhante a introdução de sonda vesical de demora (Foley) a SU, não pode permanecer por longo período num paciente acamado, sendo este criança ou idoso. Por se tratar de sonda de alívio, não é indicado o seu uso prolongado. Feito o procedimento deve ser descartada imediatamente. A sonda correta para permanência maiores é a de demora e ainda assim por período máximo de 15 dias e com acompanhamento de antibióticos. Quando a SU é esterilizada por Raio Gama Cobalto 60, as reações que o paciente pode desenvolver são nulas. Não há nenhum tipo de resíduo na material como atesta laudo da firma terceirizada para o processo. Inclusive só há benefícios, pois com a radiação o efeito esterilizante é muito superior a outros métodos. O prejuízo para a mucosa do trato uretral com introdução e/ou permanência da SU no local são distintos. Na introdução, obedecida as precauções técnicas corretas, o dano à mucosa é mínimo; já na permanência, o prejuízo é grande, pois seu uso prolongado pode ocasionar o efeito de colabar as paredes da sonda e a mucosa da uretra tanto feminina quanto a masculina.

CONCLUSÃO

O(s) orifício(s) lateral(is) não são maiores nas sondas porque o mesmo está dimensionado com relação ao calibre que a sonda tem. Quem determina a vazão maior ou menor de passagem através da sonda é a luz do tubo (calibre) e não a quantidade ou circunferência da abertura do(s) orifício(s). O número de calibres variados para os diversos tipos de sondas é para atender a diversificação da gama de pacientes que acorrem nas entidades prestadoras de serviço de saúde, se exige dos fornecedores que tal material tenha estas variações de calibre. Existem quadros que tenta orientar o uso, mas apesar de não ser rígido no aconselhamento, cabe ao profissional sempre estar ciente das diferenciações que vem agregada ao ser humano. Todos os produtos normalmente são descartáveis sendo que após único uso devem ser desprezados (lixo). Estes produtos destina-se a ser utilizado por profissionais habilitados e devidamente treinado na técnica própria a ser utilizada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exercício da cidadania inicia rompimento de conceitos valorativos embutidos numa sociedade conservadora e patriarcal. A identificação feminina inicia pela consciência que a a mulher tem em si, de seu corpo, de seu papel social, de sua história.

A mulher de hoje precisa ser estimulada pelo profissional enfermeiro a desfrutar sua sexualidade de forma saudável e prazerosa. Sabe-se que hoje as doenças são mais provocadas por um desequilíbrio interno do que por efeito de agentes agressores externos.

O enfermeiro deve considerar as mudanças sofridas pela mulher para poder ajuda-la superar a queixa que motivou a consulta e a viver sem tantos conflitos, procurando encontrar um equilíbrio entre o feminino e os novos papéis que a mulher ocupa hoje, sem abrir mão do trabalho em função da vida familiar, ou vice-versa, pois ambos podem ser ótimas fontes de satisfação para a mulher.

Sonda Usuário X calibre

retal infantil - 04 à 18 Fr / adulto - feminino: 04 à 24 Fr / adulto - masculino: 24 à 32 Fr

aspiração traqueal infantil - 04 à 16 Fr / adulto - feminino: 04 à 20 Fr / adulto - masculino: 16 à 24 Fr

uretral (vesical) infantil - 04 a 10 Fr. / adulto - masculino: 04 a 14 Fr. / adulto - feminino: 14 a 24 Fr.
naso gástrica curta infantil - feminino: 04 à 14 Fr. / infantil - masculino: 12 à 22 Fr.

naso gástrica longa infantil - 08 à 12 Fr. / adulto - feminino: 04 à 12 Fr. / adulto - masculino: 12 à 24 Fr.

Levin(e) infantil - 04 a 12 Fr. / adulto - feminino: 04 a 14 Fr. / adulto - masculino: 12 a 24 Fr.

Catéter Oxi tp. sonda infantil - 04 à 14 Fr. / adulto - feminino e masculino: 04 à 18 Fr.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATKINSON, F. & MURRAY, M.E. - Fundamentos de enfermagem: Introdução ao processo de enfermagem. Rio de Janeiro - Ed. Guanabara Koogan, 1980

BRUNNER &SUDDARTH - Enfermagem Médico - Cirúrgica (4 volumes) - Guanabara Koogan

VEIGA, D. & CROSSETI, M. - Enfermagem - Ed. Luzzatto

KNOEDLER, E - Enfermagem - E.P.U.

FAINTUCH & MACHADO & RAIA - Manual de pré e pós operatório - Ed. Manole

FARRERRAS & ROZMAN - Medicina Interna - Ed. Guanabara Koogan

MACUCO & BRANDÃO - enfermagem, Auxiliar de (4 volumes) - Ed. Luzzatto

KAWAMOTO, E. E.; FORTES, J. I. Fundamentos de enfermagem. São Paulo: EPU, 1997.

MAMEDE, M.V.; CARVALHO, E. C.; CUNHA, A. M. P. - Técnicas de enfermagem. São Paulo - Ed. Sarvier, 1984

SWEARINGEN, P. - Atlas Fotográfico de Técnica de enfermaria - Ed. Doyma-Espanha

* Ubaldo Rizzaldo Jr.
e-mail:
ubaldorj@ig.com.br
Farmacêutico Responsável pela Mark Med Ind. e Com. Ltda.
http://www.markmed.hpg.com.br/

Homens adiam exame de próstata por machismo


Um estudo conduzido na Grã-Bretanha indicou que homens adiam a realização do exame de próstata por medo de descobrir que têm a doença e por adotar uma atitude machista em relação à consulta.

O câncer de próstata é o tipo mais comum entre homens de meia-idade, causando a morte de um terço dos pacientes, diz a pesquisa, publicada no British Journal of Health Psychology.Entretanto, 20 homens com câncer de próstata que fizeram a pesquisa qualitativa da Universidade de Birmingham disseram ter adiado uma visita ao médico por medo de descobrir os resultados, ou simplesmente por achar que o exame "não é coisa de macho".

Uma das razões mais comuns citadas por eles foi a pressão de fazer jus ao estereótipo segundo o qual homens "de verdade" ignoram os problemas de saúde. Eles também se mostraram preocupados com a possibilidade de se submeter ao toque retal, o exame que detecta o tumor, disseram os cientistas.

Ansiedade

Mas os pesquisadores observaram que a possibilidade de ter câncer gerava grande ansiedade nos entrevistados, levando-os a evitar informações ou minimizar a seriedade dos sintomas.Entre os sintomas do câncer de próstata - uma glândula próxima à bexiga e à uretra - estão dor no momento de urinar ou ejacular, sangue no sêmen ou na urina e dor na parte inferior das costas, quadris e coxas.

"O estudo sugere que, muito ao contrário de ignorar os sintomas ou serem descuidados em relação à saúde, os homens são extremamente ansiosos em relação ao câncer de próstata", disse a coordenadora do estudo, Susan Hale. "O temor quanto aos efeitos da doença e ao tratamento influenciaram muito a sua decisão de procurar ajuda."

Fonte: BBC Brasil

Campanha estimula amamentação na primeira hora de vida

O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lança, no dia 1º de agosto, a campanha de estímulo ao aleitamento materno logo após o parto com o slogan "Amamentação na primeira hora, proteção sem demora" A campanha, feita pelo Ministério da Saúde em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), será divulgada durante a abertura da Semana Mundial da Amamentação, que começa no dia 1º de agosto, e, no Brasil, tem como padrinhos os atores Thiago Lacerda e Vanessa Lóes. A solenidade acontece às 9h30, na Praça da Cinelândia, no Rio de Janeiro e terá a presença do presidente da SBP, Dioclécio Campos Júnior.

A campanha da amamentação, cujo tema foi definido pela Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (Waba), engloba a distribuição de um milhão de fôlderes e de 150 mil cartazes às secretarias estaduais de saúde, secções regionais da SBP, Rede Nacional de Bancos de Leite Humano e rede de hospitais, além da veiculação de um filme na TV. A proposta é chamar atenção para a importância da amamentação na primeira hora de vida tanto para a mãe quanto para o bebê, uma vez que o aleitamento materno chega a salvar vidas, além de proteger mais o bebê contra doenças; ajudar a mulher a ter leite mais rapidamente, e auxiliar nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia.

A relevância da causa levou a atriz Vanessa Lóes e o marido, o ator Thiago Lacerda, a cederem a própria imagem e a do filho Gael, nascido em 25 de junho, para ilustrar o cartaz e o folder da campanha, com foto produzida por André Wanderley. Vale destacar que o apoio do pai, bem como de toda a família, dos vizinhos, dos amigos e dos colegas de trabalho à mulher que amamenta é fundamental para garantir o aleitamento exclusivo (sem água, chá ou suco) nos seis primeiros meses de vida do bebê, e complementado gradualmente com outros alimentos saudáveis até os dois anos ou mais.

Inúmeros são os benefícios do leite materno para a mãe e o bebê. Ele é o único alimento capaz de oferecer todos os nutrientes na quantidade exata de que o bebê precisa para seu crescimento e desenvolvimento, razão pela qual não deve ser substituído. A amamentação também garante ao bebê proteção contra infecções, alergias e outras doenças, e à mãe, menos chances de desenvolver anemia, câncer de mama e diabetes, pela diminuição do sangramento pós-parto. O ato de amamentar ainda contribui para que a mãe perca mais rapidamente o peso que ganhou durante a gravidez, bem como o ato de sugar é importante para o desenvolvimento da face, da dentição e da fala da criança e para a sua respiração. E, além de saúde, a amamentação fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho.

"As comemorações da Semana Mundial da Amamentação configuram-se como um importante marketing social capaz de aumentar os índices de aleitamento materno, e de reduzir a desnutrição, a morbidade (adoecimento), principalmente por infecções gastrointestinais e respiratórias, e a mortalidade infantil no País", destaca o diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Adson França, também coordenador do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal.

Reunião de mães

O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) convidam mães em fase de amamentação a participarem da solenidade de abertura da Semana Mundial da Amamentação no Brasil de 2007, a ser realizada na praça da Cinelândia, Rio de Janeiro. A idéia é promover um encontro inédito de 350 mães em fase de amamentação de seus filhos.

Lançamento da campanha "Amamentação na primeira hora, proteção sem demora" / Semana Mundial da Amamentação
Data: 1º de agosto
Hora: 9h30
Local: Praça da Cinelândia, Rio de Janeiro (RJ)

Mais informações
Assessoria de Imprensa do Ministério da Saúde
Tel: (61) 3315-2509 / 3315-3580Plantão: (61) 9962-3752
E-mail:
imprensa@saude.gov.br

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A importância dos limpadores linguais para os pacientes idosos

LFR: Qual a importância da utilização dos limpadores linguais para a saúde bucal de um indivíduo?

FLBM: A cada dia mais, especialmente nos indivíduos que ingerem muitos medicamentos por dia e ainda mais nos acamados, quer seja no hospital ou em casa, é PRIMORDIAL. Usar um limpador de língua permite que possam limpar as porções realmente posteriores da língua que é onde se acumulam mais restos alimentares. Estes acúmulos, além da chance de propiciar a formação de mau-hálito, fecham/ocluem os botões gustativos da língua, que é por meio de onde sentimos o gosto dos alimentos, que acaba levando as pessoas a colocarem mais sal ou açúcar para melhor sentirem o gosto dos alimentos. Além disto e ainda mais grave nos pacientes acamados, é que esta região da língua acumula muitos grupos de bactérias causadoras de pneumonias em pacientes debilitados ou propensos a problemas pulmonares.

LFR: Quais os tipos de limpadores linguais existentes e como devem ser utilizados?

FLBM: Existem diversos formatos de limpadores de língua, mas os 2 grandes tipos são os raspadores linguais - que têm uma ponta mais ativa que remove os restos alimentares de fato e os higienizadores linguais - que são arredondados e particularmente indicados para pacientes debilitados ou vivendo acamados. A freqüência de uso dos raspadores (em pessoas saudáveis) deve ser diária e é o ultimo passo de uma higiene bucal efetiva. Nas pessoas adoentadas/anêmicas o uso deve ser de acordo com as condições físicas de cada um, indo desde dia-sim, dia-não - sempre com muita leveza - até semanal. Nestes pacientes debilitados deve-se usar apenas os higienizadores linguais arredondados totalmente em sua ponta ativa.

LFR: Quando apareceram/ foram criados os limpadores linguais?

FLBM: O uso destes artefatos é muito antigo e existem relatos desde o século XVII, com a utilização de diversos materiais disponíveis em cada época/ país. Mas só no final do século XX e início do Século XXI vem sendo dada a real dimensão da importância de seu uso para parcelas cada vez maiores da população.

LFR: Por que somente recentemente os limpadores linguais têm ganhado espaço junto aos fabricantes de produtos para higiene bucal?

FLBM: Porque a cada dia que passa fica mais clara a importância de uma saúde bucal a mais completa possível, para o bem estar e saúde geral das pessoas e em particular dos idosos e dos acamados. Faz parte da evolução do conhecimento preventivo global a aplicação dos limpadores de língua nas bocas dos indivíduos.

LFR: Por que o uso dos limpadores linguais é importante para a prevenção de doenças?

FLBM: Porque ajuda a combater o mau hálito-secundariamente, mas por ajudar primordialmente na prevenção auxiliar da periodontite, das pneumonias aspirativas, no controle da diabetes e da hipertensão,doenças de grande mortalidade entre idosos (pneumonias) e de grande incidência (gengivite, periodontite, diabetes e hipertensão) nas populações de todo o mundo.

LFR: Por que o uso dos limpadores linguais é de extrema importância para os idosos?

FLBM: Como esta faixa etária tende a ingerir mais medicamentos,há uma diminuição do fluxo de saliva, que limpava também a porção posterior da língua. A Hipertensão é extremamente incidente acima dos 80 anos, por isto, tudo que ajude a prevenir seu avanço inexorável deve ser utilizado e sentir melhor o gosto dos alimentos (e usar menos sal na alimentação) é fundamental. O mesmo se aplica à diabetes, em relação ao açúcar. Mais crítico ainda é porque diversos trabalhos realizados por pneumologistas internacionais mostram que a porção posterior é um depósito de bactérias patogênicas ao pulmão e sistema respiratório e elas são um presságio das nefastas pneumonias, uma das doenças de maior mortalidade entre os idosos avançados e/ou acamados.

LFR: Para fecharmos este assunto, por favor forneça outras informações e observações que julgar necessárias.

FLBM: Há não mais de 5 anos atrás, existia apenas 1 (um) fabricante de raspadores linguais no Brasil: hoje já são mais de 15 (quinze) e isto está condizente com o quê ocorre nos países mais avançados do mundo.

Médicos e a Enfermagem Geriátrica devem buscar sua ampla aplicação, respeitando o estado físico dos pacientes sob seus cuidados, bem como os dentistas devem indicá-los nos adultos, para criar um hábito de repercussão muito favorável na 3ª Idade. Longe de qualquer modismo, o uso dos limpadores deve ser parte importante de uma limpeza bucal completa.

Referências:

Fernando Luiz Brunetti Montenegro(FLBM) - mestre e doutor pela FOUSP;Luis Fernando Russiano(LFR) - jornalista SINOG - Revista Medicina Social.

Fonte: Rev. Medicina Social

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Banco Mundial: aborto mata 68 mil mulheres por ano


Um relatório divulgado pelo Banco Mundial nesta quinta-feira estima que 46 milhões de abortos são realizados no mundo todos os anos, resultando em 68 mil mortes.

O estudo, intitulado "Questões sobre População no Século 21: O papel do Banco Mundial", estima que entre os 46 milhões de abortos anuais, 20 milhões são feitos fora das medidas de segurança e higiene.

Ainda segundo o Banco Mundial, 210 milhões de mulheres engravidam todos os anos, e destas, 500 mil morrem durante a gravidez ou no parto.

O estudo estima que uma em cada cinco mulheres recorre ao aborto por falta de acesso a métodos contraceptivos e 5,3 milhões sofrem seqüelas temporárias ou permanentes.O Banco Mundial compilou dados recolhidos de vários países divididos em três grupos: de alta, média e baixa fertilidade. No primeiro estão 35 países com altas taxas de fertilidade, em sua maioria da África Subsaariana. Apenas quatro estavam fora da região: Afeganistão, Iêmen, Timor Leste e Djibuti.

O segundo grupo reúne países do Oriente Médio, Norte da África, leste e sul asiático, sul da África, América Latina e Caribe, classificados como de média fertilidade.

O Brasil vem no terceiro grupo, que inclui países de baixa e média renda que registraram baixa em seus índices de fertilidade entre 1985 e 2005, além dos países do primeiro mundo.

Uma das tabelas do relatório mostra que a taxa de fertilidade no Brasil diminuiu de 3,1 para 2,3 neste período. Na mesma linha de comparação com o país estão Sri Lanka, Vietnã e Tunísia.

Adolescentes grávidas

O número de nascimento entre adolescentes de 15 a 19 anos no Brasil é de 89 para cada mil mulheres, uma taxa considerada alta se comparada com outros países em desenvolvimento como a China, onde a taxa é de cinco nascimentos e na Rússia, 29.

O índice brasileiro aproxima-se aos de alguns países africanos como o Quênia e a Etiópia, e de latino-americanos, como Equador e República Dominicana.

O Banco Mundial acredita que o fato de as taxas de fertilidade terem diminuído em países de baixa e média renda fora da África, como o Brasil, fez com que "as prioridades dos países doadores e agências de desenvolvimento fossem desviadas para outras questões, diminuindo atenções para as conseqüências provocadas pelas altas taxas de fertilidade".

A instituição defende que os programas de saúde devem incluir "um intenso planejamento familiar" como forma de diminuir mortalidade infantil, que geralmente é relacionada ao declínio nas taxas de fertilidade.

Fonte: BBC Brasil

Profissionais de enfermagem relatam patologias que podem estar ligadas ao trabalho

Por Sarita Coelho

Divulgado em 04/06/2003 às 00:00 h.

Diversos problemas de saúde, relatados por profissionais de enfermagem de dois hospitais do município do Rio de Janeiro, podem estar associados às suas condições de trabalho profissional e doméstico - que incluem longas jornadas, trabalho noturno e alta carga de atividades em casa. É o que sugere a bióloga Luciana Fernandes Portela em sua dissertação de mestrado em saúde pública Morbidade referida em profissionais da enfermagem: relações com o horário de trabalho, jornada semanal e trabalho doméstico.

O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Departamento de Biologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) sob a orientação de Lúcia Rotenberg e William Waissmann. Com base na dissertação, defendida em 23 de junho, a equipe fará um acompanhamento da saúde dos profissionais.

Para analisar o perfil epidemiológico dos trabalhadores, a equipe de pesquisa aplicou um questionário dividido em quatro blocos principais de perguntas: dados sócio-demográficos; trabalho profissional; trabalho doméstico; e saúde. Também foram incluídas questões do dia-a-dia, como a relação do profissional com a chefia e com os colegas de trabalho, as queixas de sono e o cansaço. O objetivo era associar algumas variáveis aos relatos de patologias. "É importante lembrar que não trabalhamos com diagnóstico, mas sim com sintomas e doenças referidos pelos enfermeiros e auxiliares", diz Luciana.

Depois de analisar as respostas dos 280 entrevistados (20 homens e 260 mulheres), algumas variáveis foram consideradas mais expressivas como fatores que interferem na saúde dos profissionais de enfermagem, como a jornada profissional superior a 40 horas/semana e a interação entre trabalho profissional e doméstico, chamada de carga total de trabalho. "A conciliação entre as atividades profissional e doméstica se revela complexa, em termos de seu possível impacto à saúde e à vida familiar, considerando que não há como separá-las na análise das relações trabalho-saúde em populações femininas", comenta.

Colesterol alto

Em relação ao trabalho noturno, foram comparadas pessoas com jornadas noturna e diurna, trabalhadores noturnos com quem nunca trabalhou à noite e ex-trabalhadores noturnos com quem nunca trabalhou à noite. Enfermeiros com mais de dez anos de experiência no trabalho noturno relataram ter colesterol alto. "A pessoa que inverte o ciclo vigília/sono, em geral, se alimenta durante a noite, o que pode provocar mudanças no ritmo da alimentação. Dados da literatura sugerem que isso possa provocar alterações no metabolismo e nas taxas de colesterol sanguíneo", justifica Luciana.

Ainda sobre a essa variável, pessoas que trabalham mais de quatro noites em um período de 15 dias relataram com mais freqüência falta de tempo para ficar com os filhos e para o descanso e lazer. "Essa queixa é mais complexa do que parece, porque é durante a noite que a família se reúne", diz ela. Um dado curioso é que as queixas de sono não foram consideradas típicas dos trabalhadores noturnos, porque profissionais de turnos diurnos também relataram o problema com bastante freqüência.

Quanto ao trabalho doméstico, a bióloga preferiu desconsiderar as respostas dos homens, por não dispor de instrumental adequado para a análise da participação masculina no trabalho doméstico. Ela analisou a jornada de trabalho em casa e a sobrecarga doméstica. "Essa última é estudada através de uma fórmula que considera o grau de participação da pessoa nas quatro tarefas básicas do lar: lavar, passar, limpar e cozinhar e para quantas pessoas estas tarefas eram feitas", explica.

Relatos de varizes, por exemplo, foram mais freqüentes entre essas mulheres, que estão expostas a longas jornadas de trabalho no hospital (mais de 40h/semana), alta sobrecarga doméstica e alta carga total de trabalho, que teve um ponto de corte de 84h/semana.

Outros resultados mostraram que relatos de enxaqueca foram mais freqüentes entre as pessoas com jornada de trabalho doméstico acima de 28 horas por semana. Esse mesmo grupo relatou ter distúrbios emocionais severos com maior freqüência em relação as que trabalharam menos horas em casa. Profissionais que trabalhavam mais de 40 horas no hospital se queixaram de falta de tempo para o descanso e lazer, para cuidar da casa, dos filhos e de si mesmos. A falta de tempo para cuidar de si próprio também foi relatada por aqueles expostos à alta sobrecarga doméstica.


Retirado do site: http://www.fiocruz.br/

Beber leite reduz risco de diabetes, diz estudo


Uma pesquisa de cientistas do País de Gales afirma que a ingestão de um copo de leite por dia pode ajudar a reduzir o risco de diabetes e problemas cardíacos.Segundo os cientistas, a ingestão de produtos lácteos reduz o risco de síndrome metabólica – uma série de sintomas que aumentam a probabilidade de doenças cardíacas e diabetes.

O estudo que foi feito ao longo de 20 anos – e publicado na revista científica Journal of Epidemiology and Community Health – constatou que a síndrome metabólica aumenta o risco de mortes em 50%.

Especialistas recomendam que as pessoas comam ou bebam de duas a três porções de produtos lácteos por dia.

Leite desnatado

O estudo feito pela Universidade de Cardiff analisou 2.375 homens com idades entre 45 e 59 anos que apresentaram pelo menos dois dos sintomas de síndrome metabólica.

Ao longo de 20 anos, questionários e diários sobre alimentação foram usados para medir a quantidade de produtos lácteos consumidos pelos homens.

Os pesquisadores descobriram que os homens que tomavam um ou mais copos de leite por dia reduziram em 62% as chances de desenvolver a síndrome metabólica.

Quanto maior o consumo de produtos lácteos, menor era o risco de desenvolver a síndrome.O professor Peter Elwood, que conduziu a pesquisa, disse que o consumo de leite caiu na Grã-Bretanha nos últimos 25 anos, devido a preocupações sobre o impacto do produto na saúde.Mas ele afirma que produtos lácteos devem ser estimulados nas dietas.

"A informação presente acrescenta mais evidências de que leite e produtos lácteos se encaixam bem em um padrão saudável de alimentação", disse.

A conselheira da Diabetes UK – associação britânica de portadores da doença – disse que a entidade não recomenda o consumo em grandes porções de produtos lácteos com alto índice de gordura.

"O resultado desta pesquisa é interessante", disse Jemma Edwards.

"Produtos láteos são partes importantes de uma dieta saudável e balanceada e nós recomendamos que as pessoas consumam entre duas e três porções de leite desnatado por dia. Uma porção equivale a um terço de um copo de leite, ou um pequeno pote de iogurte, ou a uma fatia de queijo."

Ela também disse que manter o peso ideal através de dieta e atividades físicas é vital para reduzir o risco de diabetes do tipo 2.

Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Artigo aborda a saúde e seus determinantes sociais


Alberto Pellegrini e Paulo Buss

As diversas definições de determinantes sociais de saúde (DSS) expressam, com maior ou menor nível de detalhe, o conceito atualmente bastante generalizado de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A comissão homônima da Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Nancy Krieger (2001) introduz um elemento de intervenção, ao defini-los como os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação. Tarlov (1996) propõe, finalmente, uma definição bastante sintética, ao entendê-los como as características sociais dentro das quais a vida transcorre.

Embora, como já mencionado, tenha-se hoje alcançado certo consenso sobre a importância dos DSS na situação de saúde, esse consenso foi sendo construído ao longo da história. Entre os diversos paradigmas explicativos para os problemas de saúde, em meados do século XIX predominava a teoria miasmática, que conseguia responder às importantes mudanças sociais e práticas de saúde observadas no âmbito dos novos processos de urbanização e industrialização ocorridos naquele momento histórico. Estudos sobre a contaminação da água e dos alimentos, assim como sobre riscos ocupacionais, trouxeram importante reforço para o conceito de miasma e para as ações de saúde pública (SUSSER, 1998).

Virchow, um dos mais destacados cientistas vinculados a essa teoria, entendia que a “ciência médica é intrínseca e essencialmente uma ciência social”, que as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica. Entendia também que o próprio termo “saúde pública” expressa seu caráter político e que sua prática implica necessariamente a intervenção na vida política e social para identificar e eliminar os fatores que prejudicam a saúde da população (ROSEN, 1980). Outros autores que merecem destaque nessa corrente de pensamento são Chadwick, com seu Report on the Sanitary Condition of the Labouring Population of Great Britain, de 1842, Villermé, com Tableau de l’État Physique et Moral des Ouvriers de Paris, de 1840, e Engels, com A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra, Londres, de 1845.Nas últimas décadas do século XIX, com o extraordinário trabalho de bacteriologistas como Koch e Pasteur, afirma-se um novo paradigma para a explicação do processo saúde-doença. A história da criação da primeira escola de saúde pública nos Estados Unidos, na Universidade Johns Hopkins, é um interessante exemplo do processo de afirmação da hegemonia desse “paradigma bacteriológico”. Desde 1913, quando a Fundação Rockefeller decide propor o estabelecimento de uma escola para treinar os profissionais de saúde pública, até a decisão, em 1916, de financiar sua implantação em Johns Hopkins, há um importante debate entre diversas correntes e concepções sobre a estruturação do campo da saúde pública. No centro do debate estiveram questões como: deve a saúde pública tratar do estudo de doenças específicas, como um ramo especializado da medicina, baseando-se fundamentalmente na microbiologia e nos sucessos da teoria dos germes ou deve centrar-se no estudo da influência das condições sociais, econômicas e ambientais na saúde dos indivíduos? Outras questões relacionadas: a saúde e a doença devem ser pesquisadas no laboratório, com o estudo biológico dos organismos infecciosos, ou nas casas, nas fábricas e nos campos, buscando conhecer as condições de vida e os hábitos de seus hospedeiros?

Como se pode ver, o conflito entre saúde pública e medicina e entre os enfoques biológico e social do processo saúde-doença estiveram no centro do debate sobre a configuração desse novo campo de conhecimento, de prática e de educação. Ao final desse processo, Hopkins foi escolhida pela excelência de sua escola de medicina, de seu hospital e de seu corpo de pesquisadores médicos. Esta decisão representou o predomínio do conceito da saúde pública orientada ao controle de doenças específicas, fundamentada no conhecimento científico baseado na bacteriologia e contribuiu para “estreitar” o foco da saúde pública, que passa a distanciar-se das questões políticas e dos esforços por reformas sociais e sanitárias de caráter mais amplo. A influência desse processo e do modelo por ele gerado não se limita à escola de saúde pública de Hopkins, estendendo-se por todo o país e internacionalmente. O modelo serviu para que nos anos seguintes a Fundação Rockefeller apoiasse o estabelecimento de escolas de saúde pública no Brasil (Faculdade de Higiene e Saúde Pública de São Paulo), Bulgária, Canadá, Checoslováquia, Inglaterra, Hungria, Índia, Itália, Japão, Noruega, Filipinas, Polônia, Romênia, Suécia, Turquia e Iugoslávia (FEE, 1987).

Apesar da preponderância do enfoque médico biológico na conformação inicial da saúde pública como campo científico, em detrimento dos enfoques sociopolíticos e ambientais, observa-se, ao longo do século XX, uma permanente tensão entre essas diversas abordagens. A própria história da OMS oferece interessantes exemplos dessa tensão, observando-se períodos de forte preponderância de enfoques mais centrados em aspectos biológicos, individuais e tecnológicos, intercalados com outros em que se destacam fatores sociais e ambientais. A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença. Entretanto, na década de 50, com o sucesso da erradicação da varíola, há uma ênfase nas campanhas de combate a doenças específicas, com a aplicação de tecnologias de prevenção ou cura.

A Conferência de Alma Ata, no final dos anos 70, e as atividades inspiradas no lema “Saúde para Todos no Ano 2000” recolocam em destaque o tema dos determinantes sociais. Na década de 80, o predomínio do enfoque da saúde como um bem privado desloca novamente o pêndulo para uma concepção centrada na assistência médica individual, a qual, na década seguinte, com o debate sobre as Metas do Milênio, novamente dá lugar a uma ênfase nos determinantes sociais que se afirma com a criação da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS, em 2005.

O estudo dos determinantes sociais da saúde

Nas últimas décadas, tanto na literatura nacional, como internacional, observa-se um extraordinário avanço no estudo das relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação de saúde de sua população (ALMEIDA-FILHO, 2002). Esse avanço é particularmente marcante no estudo das iniqüidades em saúde, ou seja, daquelas desigualdades de saúde entre grupos populacionais que, além de sistemáticas e relevantes, são também evitáveis, injustas e desnecessárias (WHITEHEAD, 2000). Segundo Nancy Adler (2006), podemos identificar três gerações de estudos sobre as iniqüidades em saúde. A primeira geração se dedicou a descrever as relações entre pobreza e saúde; a segunda, a descrever os gradientes de saúde de acordo com vários critérios de estratificação socioeconômica; e a terceira e atual geração está dedicada principalmente aos estudos dos mecanismos de produção das iniqüidades ou, para usar a expressão de Adler, está dedicada a responder à pergunta: como a estratificação econômico-social consegue “entrar” no corpo humano?

O principal desafio dos estudos sobre as relações entre determinantes sociais e saúde consiste em estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito. É através do conhecimento deste complexo de mediações que se pode entender, por exemplo, por que não há uma correlação constante entre os macroindicadores de riqueza de uma sociedade, como o PIB, com os indicadores de saúde. Embora o volume de riqueza gerado por uma sociedade seja um elemento fundamental para viabilizar melhores condições de vida e de saúde, o estudo dessas mediações permite entender por que existem países com um PIB total ou PIB per capita muito superior a outros que, no entanto, possuem indicadores de saúde muito mais satisfatórios. O estudo dessa cadeia de mediações permite também identificar onde e como devem ser feitas as intervenções, com o objetivo de reduzir as iniqüidades de saúde, ou seja, os pontos mais sensíveis onde tais intervenções podem provocar maior impacto.

Outro desafio importante em termos conceituais e metodológicos se refere à distinção entre os determinantes de saúde dos indivíduos e os de grupos e populações, pois alguns fatores que são importantes para explicar as diferenças no estado de saúde dos indivíduos não explicam as diferenças entre grupos de uma sociedade ou entre sociedades diversas. Em outras palavras, não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade. As importantes diferenças de mortalidade constatadas entre classes sociais ou grupos ocupacionais não podem ser explicadas pelos mesmos fatores aos quais se atribuem as diferenças entre indivíduos, pois se controlamos esses fatores (hábito de fumar, dieta, sedentarismo etc.), as diferenças entre estes estratos sociais permanecem quase inalteradas.

Enquanto os fatores individuais são importantes para identificar que indivíduos no interior de um grupo estão submetidos a maior risco, as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão mais relacionadas com outros fatores, principalmente o grau de eqüidade na distribuição de renda. Por exemplo, o Japão é o país com a maior expectativa de vida ao nascer, não porque os japoneses fumam menos ou fazem mais exercícios, mas porque o Japão é um dos países mais igualitários do mundo. Ao confundir os níveis de análise e tratar de explicar a saúde das populações a partir de resultados de estudos realizados com indivíduos, estaríamos aceitando o contrário da chamada “falácia ecológica” (KAWACHI et al., 1997; WILKINSON, 1997; PELEGRINI FILHO, 2000).

O clássico estudo de Rose e Marmot (1981) sobre a mortalidade por doença coronariana em funcionários públicos ingleses ilustra muito bem esta situação. Fixando como um o risco relativo de morrer por esta doença no grupo ocupacional de mais alto nível na hierarquia funcional, os funcionários de níveis hierárquicos inferiores, como profissional/executivo, atendentes e outros, teriam risco relativo aproximadamente duas, três e quatro vezes maiores, respectivamente. Os autores encontraram que os fatores de risco individuais, como colesterol, hábito de fumar, hipertensão arterial e outros explicavam apenas 35 a 40% da diferença, sendo que os restantes 60-65% estavam basicamente relacionados aos DSS.

Há várias abordagens para o estudo dos mecanismos através dos quais os DSS provocam as iniqüidades de saúde. A primeira delas privilegia os “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença, entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentos em infra-estrutura comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. Outro enfoque privilegia os “fatores psicosociais”, explorando as relações entre percepções de desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situação de saúde, com base no conceito de que as percepções e as experiências de pessoas em sociedades desiguais provocam estresse e prejuízos à saúde. Os enfoques “ecossociais” e os chamados “enfoques multiníveis” buscam integrar as abordagens individuais e grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica.

Finalmente, há os enfoques que buscam analisar as relações entre a saúde das populações, as desigualdades nas condições de vida e o grau de desenvolvimento da trama de vínculos e associações entre indivíduos e grupos. Esses estudos identificam o desgaste do chamado “capital social”, ou seja, das relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, como um importante mecanismo através do qual as iniqüidades de renda impactam negativamente a situação de saúde. Países com frágeis laços de coesão social, ocasionados pelas iniqüidades de renda, são os que menos investem em capital humano e em redes de apoio social, fundamentais para a promoção e proteção da saúde individual e coletiva. Esses estudos também procuram mostrar por que não são as sociedades mais ricas as que possuem melhores níveis de saúde, mas as que são mais igualitárias e com alta coesão social.Diversos são os modelos que procuram esquematizar a trama de relações entre os diversos fatores estudados através desses diversos enfoques. Dois modelos serão analisados a seguir: o modelo de Dahlgren e Whitehead (GUNNING-SCHEPERS, 1999) e o modelo de Didericksen e outros (EVANS et al., 2001).

O modelo de Dahlgren e Whitehead inclui os DSS dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. Apesar da facilidade da visualização gráfica dos DSS e sua distribuição em camadas, segundo seu nível de abrangência, o modelo não pretende explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a gênese das iniqüidades. Como se pode ver na figura 1, os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde. Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. Esta camada está situada no limiar entre os fatores individuais e os DSS, já que os comportamentos, muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas, na realidade podem também ser considerados parte dos DSS, já que essas opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais - como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer etc.

A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social que, como vimos, é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços. Finalmente, no último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas.Necessário mencionar, pela crescente influência sobre as condições sociais, econômicas e culturais dos países, o fenômeno da globalização. Suas principais características, assim como a influência da globalização sobre a pobreza e as condições de saúde, e sobre as condições de vida em geral foram analisados por Buss (2006).

O modelo de Diderichsen e Hallqvist, de 1998, foi adaptado por Diderichsen, Evans e Whitehead (2001). Esse modelo enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. No diagrama abaixo (figura 2), (I) representa o processo segundo o qual cada indivíduo ocupa determinada posição social como resultado de diversos mecanismos sociais, como o sistema educacional e o mercado de trabalho. De acordo com a posição social ocupada pelos diferentes indivíduos, aparecem diferenciais, como o de exposição a riscos que causam danos à saúde (II); o diferencial de vulnerabilidade à ocorrência de doença, uma vez exposto a estes riscos (III); e o diferencial de conseqüências sociais ou físicas, uma vez contraída a doença (IV). Por “conseqüências sociais” entende-se o impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e sua família.

As intervenções sobre os determinantes sociais da saúde

O modelo de Dahlgren e Whitehead e o de Diedricksen permitem identificar pontos para intervenções de políticas no sentido de minimizar os diferenciais de DSS originados pela posição social dos indivíduos e grupos. Tomando o modelo de camadas de Dahlgren e Whitehead, o primeiro nível relacionado aos fatores comportamentais e de estilos de vida indica que estes estão fortemente influenciados pelos DSS, pois é muito difícil mudar comportamentos de risco sem mudar as normas culturais que os influenciam. Atuando-se exclusivamente sobre os indivíduos, às vezes se consegue que alguns deles mudem de comportamento, mas logo eles serão substituídos por outros (ROSE, 1992). Para atuar nesse nível de maneira eficaz, são necessárias políticas de abrangência populacional que promovam mudanças de comportamento, através de programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a alimentos saudáveis, criação de espaços públicos para a prática de esportes e exercícios físicos, bem como proibição à propaganda do tabaco e do álcool em todas as suas formas.

O segundo nível corresponde às comunidades e suas redes de relações. Como já mencionado, os laços de coesão social e as relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos são fundamentais para a promoção e proteção da saúde individual e coletiva. Aqui se incluem políticas que busquem estabelecer redes de apoio e fortalecer a organização e participação das pessoas e das comunidades, especialmente dos grupos vulneráveis, em ações coletivas para a melhoria de suas condições de saúde e bem-estar, e para que se constituam em atores sociais e participantes ativos das decisões da vida social.

O terceiro nível se refere à atuação das políticas sobre as condições materiais e psicossociais nas quais as pessoas vivem e trabalham, buscando assegurar melhor acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, alimentos saudáveis e nutritivos, emprego seguro e realizador, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade e outros. Em geral essas políticas são responsabilidade de setores distintos, que freqüentemente operam de maneira independente, obrigando o estabelecimento de mecanismos que permitam uma ação integrada.O quarto nível de atuação se refere à atuação ao nível dos macrodeterminantes, através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem a promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade (CNDSS, 2006; PELEGRINI FILHO, 2006).

O outro modelo, proposto por Diderichsen et al., permite também identificar alguns pontos de incidência de políticas que atuem sobre os mecanismos de estratificação social e sobre os diferenciais de exposição, de vulnerabilidade e de suas conseqüências.

Embora a intervenção sobre os mecanismos de estratificação social seja de responsabilidade de outros setores, ela é das mais cruciais para combater as iniqüidades de saúde. Aqui se incluem políticas que diminuam as diferenças sociais, como as relacionadas ao mercado de trabalho, educação e seguridade social, além de um sistemático acompanhamento de políticas econômicas e sociais para avaliar seu impacto e diminuir seus efeitos sobre a estratificação social.

O segundo conjunto de políticas busca diminuir os diferenciais de exposição a riscos, tendo como alvo, por exemplo, os grupos que vivem em condições de habitação insalubres, trabalham em ambientes pouco seguros ou estão expostos a deficiências nutricionais. Aqui se incluem também políticas de fortalecimento de redes de apoio a grupos vulneráveis para mitigar os efeitos de condições materiais e psicossociais adversas. Quanto ao enfrentamento dos diferenciais de vulnerabilidade, são mais efetivas as intervenções que buscam fortalecer a resistência a diversas exposições, como por exemplo, a educação das mulheres para diminuir sua própria vulnerabilidade e a de seus filhos. A intervenção no sistema de saúde busca reduzir os diferenciais de conseqüências ocasionadas pela doença, aqui incluindo a melhoria da qualidade dos serviços a toda a população, apoio a deficientes, acesso a cuidados de reabilitação e mecanismos de financiamento eqüitativos, que impeçam o empobrecimento adicional causado pela doença.

Essas intervenções sobre níveis macro, intermediário ou micro de DSS, com vistas a diminuir as iniqüidades relacionadas à estratificação social, além de obrigarem a uma atuação coordenada intersetorial abarcando diversos níveis da administração pública, devem estar também acompanhadas por políticas mais gerais de caráter transversal que busquem fortalecer a coesão e ampliar o “capital social” das comunidades vulneráveis, e promover a participação social no desenho e implementação de políticas e programas (CSDH, 2006).

A evolução conceitual e prática do movimento de promoção da saúde em nível mundial indica uma ênfase cada vez maior na atuação sobre os DSS, constituindo importante apoio para a implantação das políticas e intervenções acima mencionadas.

A Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS)

O conhecimento e as intervenções sobre os DSS no Brasil deverão receber importante impulso, com a criação da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS). Essa Comissão foi estabelecida em 13 de março de 2006, através de Decreto Presidencial, com um mandato de dois anos. A criação da CNDSS é uma resposta ao movimento global em torno dos DSS desencadeado pela OMS, que em março de 2005 criou a Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde (Commission on Social Determinants of Health - CSDH), com o objetivo de promover, em âmbito internacional, uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde de indivíduos e populações e sobre a necessidade do combate às iniqüidades de saúde por eles geradas.

A CNDSS está integrada por 16 personalidades expressivas de nossa vida social, cultural, científica e empresarial. Sua constituição diversificada é uma expressão do reconhecimento de que a saúde é um bem público, construído com a participação solidária de todos os setores da sociedade brasileira. O Decreto Presidencial que criou a CNDSS constituiu também um Grupo de Trabalho Intersetorial, integrado por diversos Ministérios relacionados com os DSS, além dos Conselhos Nacionais de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde (CONASS e CONASEMS). O trabalho articulado da CNDSS com esse Grupo permite que se multipliquem ações integradas entre as diversas esferas da administração pública, e que as já existentes ganhem maior coerência e efetividade.

As atividades da CNDSS têm como referência o conceito de saúde, tal como a concebe a OMS - “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade” - e o preceito constitucional de reconhecer a saúde como um “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (artigo 196 da Constituição brasileira de 1988).

Três compromissos vêm orientando a atuação da Comissão:

· Compromisso com a ação: implica apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniqüidades de saúde geradas pelos DSS.

· Compromisso com a eqüidade: a promoção da eqüidade em saúde é fundamentalmente um compromisso ético e uma posição política que orienta as ações da CNDSS para assegurar o direito universal à saúde.

· Compromisso com a evidência: as recomendações da Comissão devem estar solidamente fundamentadas em evidências científicas, que permitem, por um lado, entender como operam os determinantes sociais na geração das iniqüidades em saúde e, por outro, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência.

Os principais objetivos da CNDSS são:

· produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil;

· apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da eqüidade em saúde;

· promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS.

Para o alcance desses objetivos, a CNDSS vem desenvolvendo as seguintes linhas de atuação:

1) Produção de conhecimentos e informações sobre as relações entre os determinantes sociais e a situação de saúde, particularmente as iniqüidades de saúde, com vistas a fundamentar políticas e programas. No âmbito desta linha de atuação, a CNDSS, o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e o CNPq lançaram um edital de pesquisa que permitiu apoiar projetos de pesquisa sobre DSS por um montante de cerca de quatro milhões de reais.

Os pesquisadores responsáveis por esses projetos e gestores locais e estaduais convidados estão conformando uma rede de colaboração e intercâmbio para seguimento dos projetos e discussão de implicações para políticas de seus resultados intermediários. Ainda no âmbito desta linha de atuação, foram identificados e avaliados sistemas de informação de abrangência nacional sobre DSS e foi realizado um seminário internacional sobre metodologias de avaliação de intervenções sobre os DSS. Os resultados dessas atividades estarão em breve disponíveis no site da CNDSS.

2) Promoção, apoio, seguimento e avaliação de políticas, programas e intervenções governamentais e não-governamentais realizadas em nível local, regional e nacional. O GT Intersetorial deve constituir o principal instrumento para o desenvolvimento desta linha de atuação.

3) Desenvolvimento de ações de promoção e mobilização junto a diversos setores da sociedade civil, para a tomada de consciência sobre a importância das relações entre saúde e condições de vida e sobre as possibilidades de atuação para diminuição das iniqüidades de saúde. Membros da CNDSS e da secretaria técnica vêm participando de congressos e reuniões nacionais e internacionais e utilizando meios de comunicação de massa para o desenvolvimento desta linha de atuação. Em breve será organizado um fórum de discussão nacional e regional, com a participação de organizações não-governamentais que atuam em áreas relacionadas com os DSS.
4) Portal sobre DSS: a CNDSS mantém uma página institucional (www.determinates.fiocruz.br) com informações sobre as atividades que vem desenvolvendo, além de publicações de interesse. Em breve será lançado um Portal sobre DSS, onde, além de informações sobre as atividades da CNDSS, serão incluídos dados, informações e conhecimentos sobre DSS existentes nos sistemas de informação e na literatura mundial e nacional. Esse portal deve também se constituir num espaço de interação para intercâmbio e discussão de grupos estratégicos relacionados aos DSS, como pesquisadores, tomadores de decisão, profissionais de comunicação e outros.

A partir do segundo semestre de 2007, a CNDSS começará a publicar seu relatório final em fascículos, para prestar contas sobre o cumprimento de seus objetivos, traçar um panorama geral da situação de saúde do país e propor políticas e programas relacionados aos DSS. Estamos convencidos de que as atividades da CNDSS e seus desdobramentos futuros serão uma valiosa contribuição para o avanço do processo de reforma sanitária brasileira e para a construção de uma sociedade mais humana e justa.

Este artigo foi publicado na revista Physis, que está indexada nas bases de dados Lilacs e SciELO.

Fonte: Agência Fiocruz