quinta-feira, 17 de maio de 2007

Controle da infecção hospitalar começa pela higienização das mãos

No Brasil, 15 de maio é lembrado como o Dia Nacional do Controle de Infecção Hospitalar. A partir desta semana, por ocasião da data, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inicia uma mobilização que tem como eixo central uma idéia simples, mas que pode produzir resultados valiosos: a correta higienização das mãos pelos profissionais de saúde. Essa rotina pode se tornar uma poderosa ferramenta de prevenção à infecção hospitalar.

Manifestada durante a internação do paciente ou após a alta, a infecção hospitalar decorre do contato com o ambiente hospitalar ou em virtude de procedimentos invasivos, como cirurgias e perfurações por agulhas de soros e cateteres. Trata-se de um problema registrado em todo o mundo. Estudos realizados pelo Centro para Controle de Doenças de Atlanta (EUA) mostram que a infecção hospitalar prolonga a permanência de um paciente no hospital por, pelo menos quatro dias, ao custo adicional de 1.800 dólares, o que equivale a R$ 3,6 mil.

A estudante universitária Débora Rejane Gomes vivenciou, de perto, as conseqüências de uma infecção hospitalar. Há alguns anos, seu avô, de 67 anos, deu entrada em um hospital devido a uma fratura no braço. Após ter passado por uma cirurgia e ter recebido alta médica, ele começou a apresentar outros sintomas. Primeiro, foi uma hemorragia no local da fratura, que o obrigou a voltar para o hospital. Depois, veio o coma, a confirmação da infecção hospitalar pelos médicos e o óbito, lembra a estudante.

O episódio deixou a família abalada e serviu de alerta. Hoje, quando vamos ao hospital, sempre nos preocupamos em observar se o profissional usa luvas, se lava as mãos antes de nos tocar. Além disso, procuramos nos informar, também, sobre o medicamento que nos foi indicado, conta Débora.

Medidas simples de prevenção, como a higienização das mãos dos profissionais que lidam diretamente com o paciente (médicos e profissionais de enfermagem, principalmente) e a boa conservação do ambiente, diminuem sensivelmente a incidência e a gravidade das infecções hospitalares. Reconhecida há muitos anos, a higienização das mãos é a medida preventiva mais importante e a de menor custo no controle das infecções, defende o diretor da Anvisa, Cláudio Maierovitch.Para o diretor, a adesão à prática ainda é baixa. Por isso, os profissionais devem ser estimulados a praticá-la constantemente, completa Maierovitch.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio do programa Aliança Mundial Para a Segurança do Paciente, estabelece diretrizes e estratégias para incentivar, em diferentes países, a prática de lavagem correta das mãos. Em consonância com as orientações da OMS, a Anvisa elaborou a cartilha Higienização das Mãos em Serviços de Saúde, que visa esclarecer e sensibilizar os profissionais de saúde para a importância desta prática.

O lançamento da publicação acontece nesta segunda-feira (14) durante a Oficina Nacional de Controle de Infecção em Serviços de Saúde. O encontro, que vai até a próxima quarta-feira (16), reúne, no Hotel Saint Paul, em Brasília, coordenadores das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIHs) das secretarias estaduais de Saúde. Durante três dias, eles vão discutir e definir ações voltadas à prevenção e ao controle da infecção hospitalar. Exemplares da cartilha serão enviados, por solicitação, aos serviços de saúde de todo o país.

Para o membro do Comitê de Antimicrobianos da Sociedade Brasileira de Infectologia e Coordenador da CCIH do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, Renato Grinbaum, a baixa adoção da prática de higienização das mãos se deve muito mais à inadequação das estruturas hospitalares do que à falta de disposição dos profissionais. Muitas vezes, a sobrecarga de trabalho ou a quantidade insuficiente de pias e insumos (sabão, água e álcool) dificulta o hábito, avalia Grinbaum. Na avaliação do infectologista, outra dificuldade é o uso de insumos de baixa qualidade. Produtos que causam irritação ou processos alérgicos acabam fazendo com que o profissional crie uma barreira àquela prática, lavando a mão menos vezes do que deveria, completa Renato Grinbaum.

Ações

Outra medida a ser implementada pela Anvisa é a capacitação de profissionais de saúde e a divulgação, inclusive por meio da internet, de experiências bem sucedidas que sirvam de modelo e possam ampliar o acesso a informações para os profissionais envolvidos com o tema. Pretendemos estimular a discussão destas questões incluindo o tema nas grades curriculares dos cursos de formação dos profissionais de saúde, sinaliza o diretor da Anvisa, Cláudio Maierovitch. Segundo ele, é possível tratar da prevenção e do controle da infecção hospitalar até mesmo com alunos da educação infantil.

A Agência, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde (CGLAB/MS), também desenvolve um programa que está mapeando o perfil de sensibilidade dos microrganismos causadores de infecção em pacientes internados. Um dos motivos do agravamento das infecções é o aumento da resistência das bactérias aos medicamentos antimicrobianos (antibióticos) que, usados em excesso e indiscriminadamente, promovem a proliferação de bactérias mais resistentes.

Um dia de reflexões

O ato de lavar as mãos é, historicamente, uma preocupação na área da saúde. Foi o médico húngaro Ignaz Philliph Semmelweis quem demonstrou a realidade e prevalência da transmissão das infecções hospitalares por meio das mãos. No dia 15 de maio de 1847, ele instituiu o uso de uma solução clorada para a lavagem das mãos como procedimento obrigatório (para todos) na entrada da sala de parto do hospital em que trabalhava, em Viena, capital da Áustria.Após a introdução do procedimento de higienização das mãos, observou-se a redução no número de mortes maternas por infecção puerperal (pós-parto). A prática, sugerida por Semmelweis, tem sido recomendada como medida primária no controle da disseminação de agentes infecciosos. No Brasil, a data (15 de maio) consagrou-se, desde 1999, como o Dia Nacional do Controle de Infecção Hospitalar.

O quadro do controle de infecção hospitalar no Brasil

- No Brasil, o controle de infecções hospitalares começou a ser aprimorado por meio da Portaria 196/83 do Ministério da Saúde.

- Em 1997, o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar é delineado pela Lei 9.431, que obriga os hospitais a criarem uma comissão permanente de controle das infecções hospitalares, e pela Portaria 2616/98 do Ministério da Saúde. Pela lei, as comissões permanentes devem ser compostas por representantes dos médicos, enfermeiros e da administração hospitalar. Nos hospitais de maior porte, também devem ser incluídos os representantes dos laboratórios de microbiologia e das farmácias hospitalares.

- Em 2000, um ano após a criação da Anvisa, apenas 12 estados brasileiros possuíam comissões estaduais de controle de infecção. No fim de 2002, os 26 estados e o Distrito federal já haviam reorganizado suas comissões.

- Pesquisa da Anvisa realizada em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da USP e divulgada em 2006 analisou a realidade funcional de 4.148 hospitais do país e revelou que 76% deles (3152) possuem comissões de controle de infecção hospitalar. A vigilância das infecções hospitalares é realizada em 77% das instituições (3194) e 49% dos hospitais (2012) desenvolvem programas permanentes de controle. Porém, apenas 33% deles (1356) adotam medidas de contenção de surtos.

- Estudos internacionais revelam que a existência de um programa de controle de infecção hospitalar dentro dos serviços de saúde reduz em 30% a incidência desses agravos.

- Segundo a Pesquisa da Assistência Médico-Sanitária divulgada pelo IBGE em 2006, no Brasil 4.578 estabelecimentos de saúde, com serviço de internação, possuem Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, sendo 1.427 públicos e 3.151 privados.

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