sábado, 6 de outubro de 2007

Médico cria anestésico a base de pimenta malagueta


Um novo anestésico que usa a mesma substância que dá o ardor característico à pimenta malagueta pode representar uma alternativa para o combate à dor em cirurgias, tratamentos dentários e partos, disseram os pesquisadores americanos nesta quarta-feira.

Os atuais anestésicos "adormecem" todas as células nervosas, e não só as que transmitem a dor, o que provoca paralisia e torpor temporários - como bem sabe quem já tenha tratado um canal no dentista, por exemplo.

O novo produto poupa os neurônios responsáveis pelo movimento dos músculos ou pelo tato. Os cientistas já o testaram em ratos e confiam que ele vá funcionar também em pessoas.

Eles injetaram nos ratos um composto de capsaicina, o ingrediente ativo da malagueta e de outras pimentas, e um derivado da lidocaína, um anestésico comum. Em conjunto, eles afetaram apenas os neurônios que sentem a dor, impedindo-os de transmiti-la para o cérebro.

Os cientistas comprovaram isso porque os ratos, mesmo submetidos a forte calor ou tendo as patas feridas, continuavam agindo normalmente. A injeção levou cerca de 30 minutos para fazer efeito, que se prolongou por várias horas.

O primeiro anestésico, o éter, foi introduzido em 1846, revolucionando a prática cirúrgica. Conceitualmente, pouca coisa mudou desde então.

Clifford Woolf, do Hospital Geral de Massachusetts, um dos pesquisadores envolvidos na pesquisa publicada na revista Nature, disse que o novo anestésico pode representar uma revolução tão grande quanto a do éter na sua época. "Imagino que possa se ampliar para muitas operações", afirmou ele por telefone.

Os pesquisadores acham que a nova abordagem pode ser usada também no tratamento de dores crônicas e em parturientes, e uma técnica semelhante poderia ser usada para combater a coceira provocada por eczemas, ervas venenosas e outros problemas.

Bruce Bean, da Escola de Medicina de Harvard, outro pesquisador do estudo, disse que os neurônios responsáveis pela dor são semelhantes em ratos e humanos, e por isso o novo produto deve funcionar. Os testes, segundo ele, devem começar "em dois ou três anos".

A lidocaína interfere nas correntes elétricas em todas as células nervosas, mas o derivado usado na pesquisa, chamado QX-314, é por si só incapaz de penetrar nas membranas celulares e bloquear sua atividade elétrica.É aí que entre o agente da pimenta malagueta, ou chili. A capsaicina é capaz de abrir poros existentes apenas nas membranas celulares das células nervosas sensíveis à dor - é por onde o QX-314 consegue penetrar, agindo seletivamente.

Fonte: Terra

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