domingo, 14 de outubro de 2007

Doação de órgãos no país está na contramão de vizinhos


Sistema Nacional de Transplantes vai treinar equipes para fazer a busca ativa por órgãos.

Falta desse trabalho faz com que 50% dos órgãos sejam perdidos.

Enquanto quase todos os países da América Latina registram aumento do porcentual da população doadora de órgãos e tecidos, o Brasil sofre quedas progressivas já há três anos.

No dia 27 de setembro, o ministro da Saúde José Gomes Temporão lançou uma campanha para incentivar as doações de órgãos no país.

Segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o País teve no primeiro semestre de 2007 uma média de doadores de 5,4 por milhão da população, menos do que o apontado no período em 2004 (7,6), 2005 (6,4) e 2006 (5,8).

No mesmo período, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Uruguai saltou de 19,2 para 25,2 doadores por milhão, por exemplo, enquanto a Argentina, embora ainda com números mais modestos, atingiu índice de 11,9.

Para reverter o quadro, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável pela política de doação e transplante no País, anunciou no último mês que vai apostar na criação de equipes especiais treinadas para fazer a busca ativa por órgãos. Na prática, isso significa instalar nos hospitais um grupo especializado para identificar potenciais doadores, fazer o diagnóstico de morte cerebral, conseguir autorização dos familiares para a doação, retirar os órgãos e conservá-los para a realização dos transplantes. O modelo fez da Espanha o país com os melhores índices mundiais na captação de transplantes de órgãos e é apontado como o responsável pelo avanço nos números dos países latino-americanos.

"A única coisa que faltava no Brasil era essa busca ativa com equipes mais bem qualificadas. Esse é o trabalho que estamos realizando", afirma o coordenador do SNT, Abrahão Salomão Filho, que faz questão de ressaltar que, apesar da redução, o País é um dos três maiores do mundo em números absolutos de transplantes realizados. Embora em vários Estados e hospitais já fossem realizadas essas buscas ativas, o trabalho nem sempre era feito com qualidade. "Na Bahia, por exemplo, era uma catástrofe. Em Santa Catarina temos índices ótimos, pois se investiu nisso. Não há razão para não dar certo", completa Salomão Filho.

Dificuldades médicas

Para o presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, a maior dificuldade para a reversão do quadro de queda nas doações está justamente na conscientização e capacitação da classe médica. "Muito hospital tem grupo de busca de órgão, mas é só formalidade, não funciona na prática. Os médicos não são pagos para fazer isso e por vezes nem sabem como fazer essa abordagem da família para conseguir autorização", afirma Assis.

A falta desse trabalho faz com que 50% dos órgãos que poderiam ser aproveitados para doação sejam perdidos. Na metade que pode ser aproveitada, cerca de 30% do total de órgãos é perdido porque as famílias não autorizam a doação. "Ao menos não vem aumentando a rejeição das famílias", aponta a presidente da ABTO, Maria Cristina Ribeiro de Castro.

Capacitação

Também num esforço de preparar melhor os médicos sobre a doação e o transplante de órgãos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou no final de setembro um congresso nacional sobre o tema. De acordo com o 2º vice-presidente do CFM e diretor técnico de transplantes do conselho, Rafael Nogueira, foi detectado que é necessário melhorar o trabalho médico em todas as etapas do processo da doação ao transplante. "As novas medidas do governo devem promover um grande avanço, mas temos ainda de aprimorar os diagnósticos da morte cerebral, que é um dos primeiros passos. Depois, há hospitais em que as equipes internas não funcionam, então é preciso investimento", aponta Nogueira.

Para Maria Cristina, a idéia do governo de instituir as equipes de busca ativa é um passo na direção correta, mas ela faz uma ressalva: o ideal seria que as equipes fossem montadas e administradas internamente pelos próprios hospitais grandes, como no modelo espanhol, e não com brigadas do governo. "As equipes internas já sabem o funcionamento do hospital, estão mais capacitadas a auxiliar pelo conhecimento da estrutura", conta. Abrahão Filho, do SNT, concorda. "É uma desvantagem, mas ao mesmo tempo a iniciativa do governo era necessária para fazer funcionar essas comissões", analisa.

Outro problema encontrado na hora de formar as comissões internas para fazer a busca ativa de órgãos é a formação de médicos e enfermeiros. De acordo com o responsável pela Central de Transplantes de São Paulo, Luiz Augusto Pereira, não consta no currículo das faculdades o ensino das técnicas para a realização do trabalho para a captação de órgãos. "Em São Paulo nós desenvolvemos um curso de imersão, intensivo, em 3 dias, onde ensinamos com profundidade todas as etapas do processo de captação de órgãos. Não basta ter a equipe, é preciso qualificá-la".

Fonte: Agência Estado

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou desnvolvendo um trabalho em relação a este assunto assim que tiver pronto se vc tiver interesse, me envie um email para colocá-lo ém seu blog ou parte dele...
Tb acho super importante o atentamento para este assunto que quase não se abre pauta.
um abraço Revi(enfermeira intensivista)