Quinze minutos. Este é o tempo que um paciente deverá esperar para saber se está contaminado pela bactéria leptospira, o agente causador da leptospirose. Depois de dez anos de trabalho, uma equipe do Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz (CPqGM), unidade da Fiocruz na Bahia, apresentou o teste de diagnóstico da leptospirose que, além de oferecer resultado mais rápido em relação aos de microaglutinação, que exigem até 15 dias para apontar uma resposta, amplia para 92% a chance de o diagnóstico estar correto. “Este é um teste que vai ajudar a salvar vidas, representando uma ferramenta importantíssima para o médico identificar a doença ainda no seu início, antes da progressão para formas severas”, avalia um dos coordenadores do projeto, Mitermayer Galvão dos Reis. Desenvolvido no Laboratório de Patologia e Biologia Molecular (LPBM) do CPqGM, em parceria com as universidades de Cornell e da Califórnia, o teste diagnóstico funciona com procedimento semelhante ao de gravidez.
O pesquisador visitante Alan McBride (sentado) e um coordenadores do projeto, Mitermayer Galvão dos Reis (Foto: Fiocruz Bahia)
O processo de validação do teste deve ocorrer ainda neste ano, em laboratórios especializados das universidades federais do Ceará, Rio Grande do Norte e na Fiocruz de Pernambuco. De acordo com Reis, processo semelhante também será realizado nos 21 países ibero-americanos. “Posteriormente, vamos submetê-lo à avaliação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e esperamos que o Ministério da Saúde possa distribuí-lo para os postos de saúde de todo o país no prazo de seis meses a um ano”, acredita.
Como a leptospirose é uma doença que apresenta sintomas semelhantes a dengue, hepatite e gripe do tipo febres, dores de cabeça e musculares, a celeridade na identificação ajudará o médico a prescrever o medicamento correto. Quando instalada, os sintomas são: olhos amarelados; alterações cardiovasculares; dificuldade respiratória distúrbios neurológicos e disfunção renal. O diagnóstico errado, por sua vez, pode levar a progressão da doença para formas mais graves, inclusive com hemorragia pulmonar, que geralmente leva 50% dos pacientes a óbito em 48 horas.
“Em Salvador, em 1996, durante uma epidemia de dengue, identificamos que 35% dos pacientes hospitalizados com leptospirose tinham recebido diagnóstico de dengue, erro que contribuiu para aumento da morbidade e letalidade”, avalia Reis. O teste, nesse caso, praticamente eliminaria o erro, antecipando o tratamento e a cura, já que estudos anteriores indicam o diagnóstico ambulatorial e o tratamento com penicilina, nos dois primeiros dias da doença, como suficientes para impedir a progressão para formas mais graves.
Inicialmente caracterizada como doença rural e transmitida a partir da urina do rato, a leptospirose atinge atualmente áreas principalmente carentes dos grandes centros urbanos, em função das populações destas localidades entrarem em contato com água contaminada derivada de enchentes, além da precariedade da coleta de lixo e da falta de redes de esgoto, que facilitam a proliferação de roedores. “A leptospirose se expandiu de sua base rural e se tornou a causa de epidemias cíclicas ligadas a chuvas no ambiente urbano. Grandes surtos ocorrem a cada ano, afetando praticamente os mesmos grupos de risco dentro das favelas urbanas. Precisamos de uma política pública que integre ciência, serviços de saúde e política ambiental”, defende Reis.
Dados do Ministério da Saúde indicam que foram notificados 2.698 casos, com a morte de 301 pessoas, em 2005. São Paulo é o estado com maior número de casos, com 575 confirmações. Na Bahia, foram 151 casos, no mesmo período. A Secretária de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) revelou que somente no primeiro semestre deste ano, já foram totalizados 89 casos no estado, com 9 mortes. A taxa de mortalidade das formas severas da doença é de 15%.
Fonte: Agência Fiocruz
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