Lucia Jardim
Cientistas franceses descobriram onde o vírus da aids esconde seu "reservatório" no corpo de pacientes submetidos a tratamento contínuo contra a doença. O estudo poderá trazer respostas para a questão que há muito tempo inquieta os pesquisadores do mundo todo: depois de anos de tratamento intensivo contra o HIV, os pacientes baixavam a carga viral a tal ponto que um exame não acusaria a presença da doença no corpo; no entanto, uma vez interrompido o uso do coquetel antiaids, o vírus volta a se reproduzir rapidamente e a se dissipar mais uma vez no corpo do infectado.
Os estudiosos franceses dos renomados Instituto Pasteur e Instituto Nacional da Saúde e de Pesquisas Médicas (Inserm), em Paris, afirmam que é nos gânglios linfáticos da região intestinal que o vírus se oculta. O mais importante foi comprovar o local do esconderijo nos pacientes infectados e tratados há mais de dez anos, cuja carga viral chegara a um ponto indetectável.
"Nós mostramos que este reservatório profundo se situa essencialmente nos gânglios mesentéricos, que drenam a região intestinal, e não nas placas Peyer, situadas no interior do colo, inclusive nos indivíduos tratados que não possuíam partículas virais detectáveis no sangue ou nos gânglios periféricos depois de 10 anos de infecção", disse o coordenador do estudo, Jérôme Estaquier, ao jornal Le Figaro.
Os pesquisadores também perceberam que os linfócitos, responsáveis pela defesa do corpo humano, não desempenham bem o seu papel no local porque apresentam um "defeito de sobrevida" naquela parte do corpo. Estes linfócitos habitualmente deveriam ser capazes de controlar o vírus, destruindo as células infectadas, entretanto eles estão morrendo antes do que deveriam. Essa má-formação poderia ser a causa da falha no combate definitivo do vírus.
A partir de agora, o foco das pesquisas - cujos resultados foram publicados na edição de julho da revista científica Cell Death and Differentiation - será fortalecer os linfócitos, chamados T CD8, e possibilitar que eles "vençam" o HIV no momento em que a carga viral se encontra escondida somente nos gânglios linfáticos intestinais.
Um passo inicial neste sentido já foi dado: os cientistas identificaram a molécula que pode ser a responsável pela anomalia dos linfócitos T CD8. Trata-se da TGF-beta, uma citocina imunossupressiva (proteína que baixa a imunidade). Esta citocina também está implicada na defesa do corpo contra as células cancerosas, conforme estudos anteriores.
"As estratégias serão de inibir as funções imunossupressivas do TGF-beta ou restaurar a sobrevida das células T CD8, o que nos possibilitará melhor controlar o vírus", afirmou o Estaquier ao jornal francês.
Fonte: Terra
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