terça-feira, 29 de abril de 2008

Mulheres com enxaquecas têm maior risco de derrames e infartos


Crises semanais parecem estar ligadas a mais chances de se ter um acidente cerebral.

Freqüência menor nos eventos, no entanto, aumentaria risco de ataques cardíacos.

É um típico caso de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Mulheres com enxaquecas semanais têm um risco maior de ter um derrame. E aquelas que têm a doença, mas crises menos freqüentes, têm maiores chances de ter um infarto. Quem afirma é um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos durante a Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia, em Chicago.

“Parece haver um elo claro entre a freqüência dos eventos e o risco cardiovascular”, afirmou o neurologista Tobias Kurth, da Escola de Medicina de Harvard, autor do estudo. “Mas apenas entre aquelas pessoas que vêem auras durante as crises”, explica.A “aura” é um sintoma comum nas crises de enxaqueca, geralmente acompanhada de uma intensa aversão a luz. Não são todas as pessoas com a doença, no entanto, que vêem auras. E essas não parecem estar sob maior perigo. “É algo diretamente ligado à enxaqueca com aura, que não vemos nos demais pacientes”, garantiu Kurth.

É exatamente por isso que o médico acredita que o problema está ligado à doença em si, e não à medicação. “Os remédios contra enxaqueca são os mesmos, independente da presença de aura. Se fosse o medicamento, todos as pacientes teriam o mesmo risco”, disse ele.

Kurth e sua equipe acompanharam por 12 anos 27.798 mulheres, todas profissionais da área da saúde com 45 anos ou mais. Nenhuma delas tinha qualquer doença cardiovascular no início do estudo, mas 3568 tinham enxaqueca – 65% delas com crises menos de uma vez ao mês; 30% com eventos mensais e 5% com dores semanais. Durante os 12 anos, houve 706 acidentes vasculares cerebrais (AVCs), 305 infartos e 310 derrames.

As mulheres que tinham enxaquecas semanais, de acordo com o cientista, tinham três vezes mais chances de ter um derrame. As que tinham menos de uma crise por mês, no entanto, tinham uma vez e meia a mais chance de ter um infarto.

O neurologista pretende agora tentar descobrir se medicar a enxaqueca reduz o risco cardiovascular. “Pode ser que sim, mas vamos precisar de mais estudos”, disse ele.

A enxaqueca é uma doença neurológica e não significa a mesma coisa que “dor de cabeça forte”. Embora as dores sejam o sintoma mais característico do problema, há outros fatores envolvidos que precisam ser tratados por um neurologista.

Marília Juste

Fonte: G1 21/04

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